quarta-feira, 29 de julho de 2015





Súbito silêncio

Cesar Vanucci

“Pergunta simples de um cidadão comum: quando a grande mídia resolve estabelecer,
subitamente, silêncio sobre questões palpitantes isso quer dizer exatamente o quê?”
(Domingos Justino Pinto, educador)

Observadores atentos aos acontecimentos do dia-a-dia assinalam que o noticiário acerca das falcatruas da Fifa com desdobramentos envolvendo a CBF, conforme previsões, vem minguando. As manchetes e comentários ruidosos dos primeiros momentos sumiram.

Os mesmos observadores dizem ainda que, nos círculos esportivos, tinha-se como certo que isso acabaria fatalmente acontecendo, tão logo as investigações enveredassem para coletas de provas relativas a supostos atos nebulosos praticados à volta das concessões para transmissões de jogos. É neste preciso momento que aparece em cena, nas roupagens de indiciado, um cidadão brasileiro, jornalista J.Hawilla, da tal “Traffic”. Ao que se sabe, pessoa já comprometida com “delação premiada”. Taí assunto que, com pouca ou nenhuma cobertura, está fadado a render.

O rumoroso episódio das contas secretas do HSBC é outro assunto que toma a atenção dos observadores, intrigados com a repentina “retração midiática” a respeito. Em fevereiro passado, jornalistas franceses denunciaram a existência de 180 bilhões de euros, de origem bastante suspeitosa, numa agência suíça da citada organização bancária. De acordo com a revelação, cerca de 106 mil contas, de pessoas físicas e jurídicas de diferentes países, comporiam colossal fraude de sonegação. Do total apontado, 8677 contas pertenciam a brasileiros. O contingente apontado ocupa quarto lugar em depósitos e nono em número de clientes. Ficou um pouco abaixo da participação francesa no esquema. A sonegação atribuída aos “ilustres patrícios” é de 20 bilhões de euros. Dinheirama capaz de aliviar em muito a carga imposta à sociedade com o ajuste fiscal, não é mesmo?

Por outro lado, o noticiário parco de agora sobre a chamada operação “Zelotes”, relacionada também com sonegação, é outra questão que vem desconcertando observadores atentos às coisas brasileiras. Implicando em valores astronômicos, dando margem, conforme as revelações iniciais, a suspeitas de participação no fraudulento processo de “pessoal da pesada” em termos de poder econômico, a questão “tomou”, de repente, por assim dizer, “chá de sumiço” no noticiário nosso de cada dia.

Quais as razões desse súbito silêncio em todos esses casos?

Maju e os racistas
Maju, como é conhecida, vem alindando com encanto feminil e baita competência profissional, como encarregada do boletim meteorológico, o “Jornal Nacional”. Um punhado de empedernidos racistas, gente de mal permanentemente com a vida, sentiu-se “molestado” com o desempenho da moça, partindo então para alvejá-la nas redes sociais. De todas as partes do país pipocaram manifestações de desagravo à jovem apresentadora. Esses talebãs não se emendam... Qualquer hora dessas voltarão a aprontar. Identificá-los e enquadrá-los nos rigores da lei é um gesto benéfico de saneamento moral.


Todos têm culpa no cartório

Cesar Vanucci

“Não é “OK” jogar uma bomba de uma tonelada no meio de um bairro.”
(De um relatório da ONU sobre o conflito em Gaza)

Os conflitos em Gaza de 2009 e 2014 motivaram relatórios de comissões organizadas pela ONU, a segunda delas presidida por respeitada jurista estadunidense, Mary Megowan Davis. As conclusões do segundo trabalho coincidem com as do primeiro, conforme esclarece em circunstanciada reportagem o jornalista Antônio Luiz M. C. Costa para a revista “CartaCapital”, edição de número 856, de 1º de julho.

Do ponto de vista dos responsáveis pelas investigações, tanto o Estado de Israel quanto o grupo palestino Hamas praticaram “crimes de guerra” nos confrontos, mas a parcela de culpa israelita é consideravelmente maior em função da extensão dos danos provocados. Aludindo apenas ao conflito de 2014, a comissão apurou que o Hamas matou seis civis israelenses, um civil tailandês, executou 21 palestinos por suspeita de ação hostil, feriu mil e seiscentas pessoas, entre elas 22 crianças, além de ameaçar a população civil ao redor de Gaza com a construção de túneis e o disparo sistemático de foguetes.

No tocante a ação armada israelense, a comissão começa o relatório por reconhecer que seria difícil para Telavive confrontar ataques de inimigos entrincheirados em Gaza, território superpovoado, sem causar danos à população civil palestina. Mas admite, também, que não houve esforço digno de menção das forças armadas no sentido de evitar que o morticínio alcançasse as proporções registradas. “O emprego de explosivos em bairros densamente povoados é problemático e tem de mudar. Não é “OK” jogar uma bomba de uma tonelada no meio de um bairro”, assinala o relatório. As acusações a Israel falam de ataques a prédios habitados, destruição de bairros inteiros, 18 mil casas destruídas, 2.205 palestinos mortos, dos quais 1.462 civis (742 no interior de suas moradias), 557 crianças entre elas. E mais: 30 por cento de escolas e 50 por cento de jardins de infância reduzidos a escombros por bombas despejadas do alto e por misseis. E houve também intensos ataques a hospitais e mesquitas.

Os dados apresentados são contundentes. Documentam uma contenda insana, alimentada por radicais que se recusam a definir numa mesa de negociações a divisão da área destinada, há décadas, pela ONU, para abrigar dois Estados: o Estado do Israel, já implantado, e o Estado da Palestina, ainda não definitivamente implantado.


Esconderijos de dinheiro

Cesar Vanucci

A bufunfa armazenada nos “paraísos fiscais”
 ajudaria a resolver um montão de problemas.”
(Antônio Luiz da Costa, professor)

Fala-se pouco no assunto. A parcimoniosa divulgação atende, certeiramente, a conveniências poderosas.

Nos bastidores, há quem esteja trabalhando com afinco a possibilidade de fazer gorar e, se isso não se mostrar factível, retardar ao máximo a entrada em vigor do tratado de cooperação internacional que prevê fórmulas de controle da dinheirama de origem suspeita derramada nos cofres dos chamados “paraísos fiscais”. O esquema, já em avançado estágio de articulação, garantirá um intercâmbio permanente de informações sobre operações financeiras entre as nações signatárias. O objetivo é reprimir a sonegação deslavada que aí campeia, com a promoção, paralelamente, da justiça social nas taxações fiscais.

Desde setembro do ano passado o Brasil definiu, a exemplo de outros 85 países, sua participação nesse engenhoso e providencial sistema. A perspectiva de que tudo, futuramente, venha a funcionar a contento sai fortalecida da revelação de que, entre os signatários do tratado figuram até mesmo alguns dos hoje despoliciados “refúgios fiscais”. Casos da Suíça, Luxemburgo, Ilhas Cayman e Ilhas Jersey, estuários manjados de (fabulosas) fortunas mal adquiridas.

Para se ter um vislumbre desse trabalho nascido de uma  conjugação internacional, executado com a finalidade de reduzir os “esconderijos de dinheiro”, é bom consultar elucidativos dados recentes, fornecidos por órgãos  oficiais credenciados. O Banco Central do Brasil calcula que o grupo de cidadãos e entes jurídicos domiciliados no território nacional que mantêm depósitos em agências bancárias do exterior reúna uma riqueza trilionária da ordem de 390 bilhões de dólares. Mas há quem ouse contestar os números, considerando-os conservadores, ora, veja, pois...
Para a “Tax Justice Network”, ong do Reino Unido, a bufunfa escondida, atribuída a patrícios, chega às alturas everestianas dos  520 bilhões de dólares. Os donos dessa nota preta, no modo de ver de Claudio Damasceno, presidente do Sindifisco, órgão representativo da categoria dos auditores da Receita, são em grande maioria tremendos sonegadores. Todos ocupando lugares ostensivos nos times dos corruptos e corruptores de alto coturno, dos contrabandistas e dos traficantes.

Na hora em que esse complexo de liberação de dados for posto mesmo pra funcionar, queira Deus seja em breve, muitas revelações encardidas, sórdidas, chocantes, a respeito de iliceidades praticadas em operações financeiras externas pintarão inexoravelmente no pedaço. Aqui e fora daqui. Não é difícil adivinhar: antes que isso aconteça haverá, por certo, distanciadas do conhecimento público, tentaculares tentativas no sentido de deixar tudo como está, nesse malcheiroso capítulo dos “paraísos fiscais”, pra ver como é que fica.


 Emir Sader *

Em torno do Estado se dão os grandes debates atuais. É o alvo do golpe

Desde que Ronald Reagan disse que o Estado deixava de ser solução para ser o problema, o Estado passou a estar no centro dos debates e das lutas políticas. Reagan apontava-o como ineficiente, corrupto, expropriador de recursos das pessoas, produtor de inflação, desperdiçador, burocrático – em resumo, fonte dos problemas da humanidade.
No seu lugar, se passou a promover a centralidade do mercado e das empresas, identificados como eficientes, dinâmicos, baratos. Quanto menos Estado, melhor (para eles). Estado mínimo significa mercado máximo. Menos regulação estatal, menos direitos, menos proteção, menos políticas de inclusão social.
Alguns dos que fizeram a crítica de uma chamada "Estadolatria" da esquerda no período histórico anterior, buscaram refúgio na "sociedade civil", que mal podia mascarar o mercado, na versão dominante do neoliberalismo, entre eles ONGs e alguns intelectuais, pela rejeição comum do mercado. Sem o que dizer do ponto de vista do poder do Estado, essa forças desapareceram da cena política.
Superar o neoliberalismo é assumir funções que foram anuladas no Estado mínimo. Estado mínimo não significa mais cidadania, porém menos, porque cidadão é o sujeito de direitos e o que mais faz o neoliberalismo é expropriar direitos, em favor do consumidor e do mercado. Quem pode garantir direitos, promover políticas sociais, participar de processos de integração regional e de alianças Sul-Sul, induzir políticas de expansão econômica com distribuição de renda, programa de desenvolvimento tecnológico e científico, entre outras obrigações civilizatórias, é o Estado.
Por tudo isso, o alvo central da direita, das suas tentativas de restauração conservadora, é o Estado. É em torno do Estado que se dão os grandes debates atuais – sejam econômicos, sociais, culturais ou diretamente políticos.
No Brasil, não por acaso os alvos centrais da direita têm sido sempre o Estado – Petrobras, Correios, Fundos de Pensão, BNDES, Banco do Brasil, Caixa Econômica – tentando desarticular a capacidade de ação do Estado.
Diga-me o que você tem a dizer sobre o Estado e eu te direi onde você se situa política e ideologicamente. Não é a polarização que encanta ao neoliberalismo, entre um Estado que ele mesmo maltratou, desfeito, e uma suposta em esfera privada, a que vige no mundo contemporâneo. Porque a esfera do neoliberalismo não é uma esfera meramente privada, é esfera mercantil, em que tudo se vende, tudo se compra, tudo tem preço, tudo é mercadoria. E a esfera da esquerda é a esfera pública, a esfera dos direitos e da cidadania. O Estado é um espaço de disputa hegemônica entre as duas esferas – a pública e a mercantil –, frequentemente as duas se representam e se disputam dentro do próprio Estado.
Muita razão têm os países que decidiram refundar o Estado, para adequá-lo à nova base social que sustenta o poder político, o novo bloco social que leva adiante as políticas de superação do neoliberalismo. Os que não o fizeram, sofrem com um aparato burocrático incapaz de incorporar a participação popular que os novos governos requerem.
Não se trata de que todo debate possa ser reduzido ao Estado, mas cada proposta de modelo e de política econômica reserva um lugar para o Estado, supõe uma forma de Estado. Um Estado de subordinação às forças do mercado ou um Estado capaz de implementar políticas soberanas, democráticas, populares.
Como o mercado anda com pouco prestígio, não apenas pelos danos que causaram as políticas neoliberais, mas também pela profunda e prolongada crise internacional do capitalismo, a direita se concentra em atacar o Estado e os governos que se valeriam do Estado para praticar políticas "populistas", "corruptas", inflacionárias. Mas atacam o Estado para voltar a impor políticas centradas no mercado.
Nunca como agora o pensamento crítico tem teve que se voltar para o tema do Estado, das formas que deve assumir o poder político para corresponder aos governos e ao processo que busca a construção de modelos de superação do neoliberalismo. Do tipo de poder popular que se necessita para deitar raízes definitivas nas formas novas formas de Estado que precisamos.

*  Emir Sader é sociólogo e cientista político brasileiro
   Fonte:  www.brasil 247.com

sexta-feira, 24 de julho de 2015

CONVITE ESPECIAL PARA
OS AMIGOS DO BLOG DO VANUCCI

No próximo dia 30 (trinta) de julho, quinta-feira, em reunião solene programada para o auditório da Associação Comercial de Minas, estarei tomando posse no cargo de Presidente da Academia Mineira de Leonismo, braço cultural da Associação Internacional de Lions Clubes.
Ficarei sumamente honrado com a presença dos amigos.
A solenidade está marcada para as 19h30m (dezenove horas e trinta minutos).

O auditório da ACMinas está localizado à avenida Afonso Pena, nº 372, 4º andar, Centro, Belo Horizonte.


A xeretagem eletrônica
não para


Cesar Vanucci


“A França não tolera nenhum ato que questione sua segurança.”
(François Hollande sobre o esquema de espionagem estadunidense)


A reação indignada do governo francês à espionagem praticada em seus domínios pelos Estados Unidos escancara, outra vez, a arrogância imperial que a Casa Branca esmera em fazer prevalecer nas relações com o resto do mundo.

A França é apontada como um aliado preferencial dos norte-americanos, pode-se dizer. Ned Proce, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, apareceu em cena, depois do protesto francês, para afirmar, tom compungido na fala, que “trabalhamos estreitamente com a França em todos os assuntos de preocupação internacional” e que “os franceses são sócios indispensáveis”. Dá pra imaginar o que não poderia estar ocorrendo de mais grave, caso não fossem “tão indispensáveis” assim?

A verdade verdadeira é que os governantes estadunidenses não param de se enroscar em demonstrações consecutivas de inconfiabilidade perante os aliados, desde que esse processo tentacular de xeretagem eletrônica, espalhado pelo mundo por obra e graça de seus organismos de segurança, veio a ser descoberto como grave ameaça à soberania dos países e aos direitos de privacidade dos cidadãos. As revelações volta e meia vindas a furo, vazadas por ex-integrantes dos esquemas de espionagem, todos cidadãos de nacionalidade norte-americana inconformados com a sordidez das ações desencadeadas, revelam que, no modo de ver dos dirigentes da mais poderosa nação do planeta, “o mundo se divide em inimigos e servos”, como assinala Alain Chonet, ex-chefe dos serviços de inteligência franceses.

O pedido de explicações formais do “Champs-Élysées” a respeito dos atos de espionagem objeto neste instante de veementes condenações tanto do governo francês quanto da oposição, irá por certo, como sói acontecer na esfera diplomática, definir regras capazes de amortecerem os impactos da aparente ruptura registrada no “pacto de confiança” entre os dois antigos aliados. O que argutos observadores da cena mundial, agora, se perguntam é quando e onde outro incidente assemelhado ganhará novamente as manchetes. Ninguém coloca em dúvida, diante dos precedentes históricos, que, em breve, um pouco mais na frente, a este clamor atual da França, que secundou o clamor da Alemanha e o clamor do Brasil em dias ainda recentes, quando os dois países foram alvejados também pelos serviços de espionagem do “leal aliado”, venha se juntar mais os protestos de algum outro país, igualmente surpreendido, em dado instante, na incômoda mira desse sistema ousado e petulante. Um sistema que ambiciona, à maneira do “Grande Irmão”, estabelecer o controle mundial da comunicação eletrônica e que tem sido praticado ostensivamente, em vasta escala, pelo governo americano. Antes e agora.


Na mira do Echelon


Cesar Vanucci

“A xeretagem eletrônica não perdoou nem o avião presidencial, minha nossa!”
(Antônio Luiz da Costa, educador)


Aconteceu pouco depois da manifestação de protesto do governo francês diante da constatação de que os serviços de inteligência estadunidenses andaram, na moita, monitorando ações de líderes políticos do país. A Presidenta Dilma Rousseff voltava da visita oficial aos Estados Unidos, onde foi recebida com todas as honras de estilo pelo Presidente Barack Obama, participando de negociações consideradas esperançosas e fundamentais para o aprimoramento das relações entre as duas nações irmãs.

Pela “Wikileaks”, organização especializada em postagens de documentos contendo informações confidenciais vazadas de qualificadas fontes que se mostram em desacordo com a política da Casa Branca em sua relação com países aliados dos Estados Unidos, fomos todos inteirados de detalhes atordoantes acerca daquele esquema montado, tempos atrás, pela Embaixada Americana visando espionar autoridades brasileiras.

As revelações vindas a furo reportaram-se a ocorrências – repita-se – já transcorridas. Segundo a divulgação feita, além da chefe do governo brasileiro, outros numerosos personagens da cena nacional estiveram por algum tempo sob a mira da parafernália de xeretagem eletrônica implantada nas nossas barbas. Pra se ter uma ideia da tremenda ousadia praticada, nem o avião presidencial escapou da monitoração! E, sintomaticamente, numerosos funcionários graduados do Itamaraty “entraram também na dança”. Por ocuparem posições estratégicas na política diplomática figuraram, ao lado de outros elementos de realce público, na lista dos cidadãos nacionais que tiveram a intimidade devassada pela arapongagem do “Echelon”. A expressão “Echelon” designa, como explicam alguns, o complexo tentacular que, à maneira do “Grande Irmão” configurado na história orwelliana, cuida com esmero e rigor de levantar dados políticos, econômicos, sociais e comerciais, por esse mundo afora, que possam favorecer os respeitáveis interesses norte-americanos...

Pode ser -, como não? -, mesmo que muita gente duvide disso, que as tais operações de espionagem de tempos atrás, no tocante ao Brasil, como oficialmente anunciado, hajam cessado. Pode ser. Mas que é difícil pacas abrir crédito de confiança incondicional a “aliado” de humor tão instável, como os Estados Unidos, flagrados aqui e noutros cantos do mundo em procedimentos que não distinguem amigos de inimigos, ah! falar verdade, lá isso é mesmo...


Cantar e cantar e cantar...

 Arahilda Gomes Alves *

Se Gonzaguinha, ainda, estivesse entre nós, comemoraria a vida com a canção de exaltação a ela através do canto. Porque o Canto expressa momentos de felicidade. Provoca sentimentos e realizações buscadas no dia a dia. Forma de arte em que a palavra se atrela ao som.  A palavra é som, mas não traz a flexibilidade da palavra cantada. Já dizia meu saudoso mestre Sergio Magnani: A palavra falada consegue estender-se para até quatro sons acima ou abaixo do seu registro vocal e a voz cantada pode percorrer uma gama sonora de três a cinco oitavas, ou sejam uns quarenta sons sendo tal atingimento, proeza canora. Gravações nos mostram dois cantores raros como o alemão Ivan Rebbroff, que emitia frases cantantes que iam de sons de um baixo-qualidade vocal do cantor de voz grave ao mais agudo som de tenor ou soprano.
A inca Ima Sumac era também fenômeno musical percorrendo quase sete oitavas. A maioria dos cantores populares canta no registro médio, voz acomodada e sem esforço. Já os cantores líricos, que trabalham a voz para aplicá-la nos recitais eruditos podem se dar ao luxo de mostrar uma performance onde o canto desliza através de caprichada estrutura musical provocando admiração e outros sentimentos nobres. A emoção se entrelaça ao virtuosismo do cantor. Nos séculos dezesseis e dezessete, culminando com o dezoito, as vozes se renderam aos espetáculos do “teatro musical” chamados posteriormente, de ópera. Árias eram compostas a determinadas vozes conhecidas, que às vezes, extrapolavam a linha melódica exibindo dotes vocais. Diz-se que a ópera foi criada para a voz humana com todos seus absurdos, extravagâncias carecendo de disciplina.
Do seu surgimento ao apogeu do século XVIII, época de ouro dessa forma erudita, papéis importantes eram dados aos castrados, de canto forte emprestando suas vozes a papéis destinados às mulheres. Mas, contrários à própria natureza, em que se sacrificavam como homens para adorno de vozes excepcionais foram, paulatinamente, perdendo sua glória. As escolas de canto em ascensão, no século seguinte, científica e artisticamente amparadas por técnicas e atendendo à fisiologia para saúde vocal do aparelho fonador, trouxeram menos esforço e mais rendimento vocal, sem que se precisasse, assistir ao canto através de sacrifícios e contorcionismos dos cantores. Se a ópera ainda é produto caro atendendo a grande público até século passado, reveste-se de conhecimento para popularizá-la. Foi o que conseguimos, há alguns anos formando plateia, que se juntasse ao gênero chamado elitista com a ópera de Mozart “As bodas de Fígaro”, sintetizada, traduzida e com cantores da terrinha.
O Brasil em sua pluralidade de raças, berço de grandes criações rítmicas, é manancial inesgotável de um canto puro, embora miscigenado despontando artistas carismáticos indo das massas ao mais exigente apreciador.
Eis nosso grito de BRAVO ao dia do Cantor, a 13 de julho deste. 

* Arahilda Gomes Alves é diretora/ co-fundadora Fórum Articulistas de Uberaba e Região, Cônsul Poetas Del Mundo, Membro Clube Brasileiro da L. Portuguesa (B.H), Membro Revista Eletrônica ZAP, Membro da A.L Teófilo Otoni - ALTO, cadeira 33 ALTM


sexta-feira, 17 de julho de 2015

CONVITE ESPECIAL PARA OS AMIGOS DO “BLOG DO VANUCCI”

No próximo dia 30 (trinta) de julho, quinta-feira, em reunião solene programada para o auditório da Associação Comercial de Minas, estarei tomando posse no cargo de Presidente da Academia Mineira de Leonismo, braço cultural da Associação Internacional de Lions Clubes.
Ficarei sumamente honrado com a presença dos amigos.
A solenidade está marcada para as 19h30m (dezenove horas e trinta minutos).

O auditório da ACMinas está localizado à avenida Afonso Pena, nº 372, 4º andar, Centro, Belo Horizonte.

Esse país e essa gente!


 Cesar Vanucci

“No entanto, não há nada
 mais brasileiro que um brasileiro.”
(Fernando Sabino)

País de dimensão continental. Quarto ou quinto em superfície. A área da Amazônia legal é maior do que todo o continente europeu, Rússia naturalmente excluída. Maior nação neolatina, democracia pujante, sexta economia do mundo, idioma único apesar da vastidão territorial, faz fronteira com dez diferentes países. Sem quaisquer atritos na convivência com qualquer um deles. A gente que habita estas paragens é provida de espírito o mais fraternal e solidário. Não ocorrem por aqui desavenças fratricidas por causa de crença ou etnia. O relacionamento humano é propenso à cordialidade e aceitação das divergências no plano das ideias. Fundamentalismo algum conseguirá jamais danificar, Deus louvado,nestes pagos abençoados, essa benfazeja inclinação.

Numa consulta popular ampla, anos atrás, este país majoritariamente católico consagrou um líder espiritista, Chico Xavier, como “brasileiro do século”. Indagação inevitável: em que outro lugar qualquer do mundo algo semelhante poderia acontecer?

Mas por que será mesmo que, nesta manhã friorenta, estas coisas todas sobre o meu país afloram, de forma tão impetuosa, em meu espírito? Matutando com os botões do pijama, imagino no primeiro momento que dos recônditos da alma acaba de irromper a necessidade de divulgar, alto e bom som, fatos incontestes que contribuam de algum modo para amortecer um colosso de informações pessimistas espalhadas por ai. Informações que andam alimentando onda encorpada de desalento, naturalmente conflitiva com as potencialidades e virtualidades nacionais.

Vou mais longe nas ruminações, chegando singelamente a uma história intrigante. O país é tão grande, abriga propostas culturais tão exuberantes e diversificadas, que não raras vezes costuma deixar-nos encabulados diante de situações desnorteantes extraídas de seu efervescente cotidiano. As manchetes do dia projetam uma delas. O jovem cantor sertanejo Cristiano Araújo, 29 anos, viu interrompida tragicamente refulgente trajetória de sucesso num acidente automobilístico. A ocorrência ceifou outra vida preciosa. A da namorada, Allana Moraes. O desaparecimento do ídolo provocou abalo emocional em parcela significativa da população, ensejando uma cobertura midiática de proporção descomunal, reservada apenas às celebridades artísticas. Foi aí, então, que um montão de gente descobriu que o talentoso cantor fazia parte delas. Figurando entre os intérpretes mais ouvidos, sobretudo junto a público mais moço, Cristiano atraia na rede social milhões de seguidores, superando de longe a popularidade de outros famosos. Multidões ignoravam essa circunstância.

Apesar da fama, derivada de reconhecidos dons artísticos, ele permanecia ilustre desconhecido com sua arte alegre para um contingente considerável de apreciadores de outros gêneros artísticos, outros astros e estrelas no mundo fascinante do entretenimento. A repercussão de sua partida prematura não deixou, em sendo assim, de produzir enorme surpresa nesses círculos.

Há uma ilação didática clara, iniludível, a retirar disso tudo. A tal moral da história. Neste país-continente, magnificamente integrado pelo idioma e costumes, nascidas de uma mesma fonte matricial de cultura, que bebe fartas inspirações na generosa índole popular e na alegria de viver que inunda lares e ruas, florescem perfeitamente realidades artísticas paralelas, com seu colorido todo peculiar. São acolhidas com entusiasmo por plateias distintas solidamente entrelaçadas em seu encantamento com a vida e seu apego aos valores que dignificam a aventura humana.


A CASA ASSASSINADA


Guido Bilharinho *


Não é fácil ao cineasta realizar filme intimista, como muitos romancistas preferiram fazer na literatura. A imagem cinematográfica exige, por princípio, o movimento. Não quer isso dizer, no entanto – sem configurar contradição, ao contrário – que só é cinema ou bom cinema os filmes de muita ação e agitação. Não é porque a imagem incessantemente se move que pessoas e coisas filmadas devem acompanhá-la. O que se sucede ininterruptamente é a imagem, vindo uma após outra. O objeto filmado, matéria da imagem, forma outra realidade, conquanto a componha. Todavia, tanto um quanto outra perfazem corpos distintos, independentes, prescindindo o objeto da imagem, visto ter existência autônoma.

No entanto, a imagem, mesmo sempre se vinculando ao que contém, não lhe está jungida, podendo desvencilhar-se e passar a focalizar outro ou outros objetos, aleatória ou intencionalmente.

Em consequência, não importa à imagem cinematográfica, para se constituir, que seu conteúdo seja estático ou não, desde que ela não o seja.

Assim, pode-se perfeitamente realizar filme intimista, carregado de subjetividade, sem prejuízo da ininterrupta sucessividade imagética cinematográfica.

Contudo, dada sua natural dificuldade, poucos são os cineastas que se aventuram a esse cometimento.

Ao filmar o tema do romance Crônica da Casa Assassinada (1959), de Lúcio Cardoso, o cineasta Paulo César Saraceni (Rio de Janeiro/RJ, 1933-2012) poderia optar por dirigir obra intimista ou de ação.

No filme daí resultante, A Casa Assassinada (1970), elege a segunda via, procurando conciliar, em grande tour-de-force, as angústias pessoais e os conflitos interpessoais de suas sofridas e amargas personagens. Se aquelas as convulsionam intimamente, sua materialização fílmica só se dá quando as opõem entre si, exteriorizadas em ação nem que seja, como no caso, dialógica.

Ao contrário do que se supõe, a ação fílmica não se concretiza apenas em movimentação física das personagens, mas, principalmente, no seu relacionamento interpessoal mediante gestos, olhares, expressões faciais e oralização de seus interesses, propósitos, temores e toda a gama de emoções características do ser humano.

No caso, a movimentação corporal ocorrente mais não faz e mais não significa do que a procura do outro ou o encontro com o outro para, por meio da palavra, expor desavenças, amores ou contrariedades.

Em decorrência disso, ao decidir-se o cineasta pela verbalização da subjetividade individual e pela exterioridade conflitual, envereda pela ação. Porém, não a ação em si ou por si mesma, mas, como reflexo da intimidade do indivíduo posta frente ao mundo, à realidade concreta que o circunda.

Se se substitui a personagem pensando consigo mesma pela personagem dialogando com outrem, não se perde de todo, contudo, o cerne substancial de sua subjetividade e tortura íntima, que se manifesta também na face, na postura e nas atitudes.

Os dramas individuais entrelaçam-se numa rede contristadora apenas rompida pelos contatos amorosos, que mais a complicam e enredam em dramas carregados de intrínseca tragicidade num filme belo na soturnidade de suas vivências, décors e exuberante paisagem rural, todas marcadas pela decadência e estagnação econômico-social familiar, que moldam os caracteres, acentuam e agravam as pendências quando não as originam e deflagram.

A segurança diretiva do cineasta e sua consciência do fazer fílmico imprimem iguais atributos às interpretações, onde se salienta a notável performance de Norma Benguel, que domina as cenas em que aparece numa das melhores interpretações do cinema pela alta carga de consistência que imprime à personagem.

Se no filme a ação é exposta pela dialogação, que assume, pois, importância capital, a precariedade da gravação e/ou da transmissão do som prejudica sua plena inteligibilidade e, por extensão, o próprio filme, que exige, para sua fruição, sejam compreendidas as agruras, paixões e conflitos em jogo.

Destaca-se, ainda, no filme a preocupação direcional pelos enquadramentos das personagens nos décors e nas locações externas, em mútua e constante interação e valorização, como se as pessoas não pudessem existir e movimentar-se fora da paisagem e como se esta não tivesse importância sem a presença humana.

(do livro Seis Cineastas Brasileiros. Uberaba, Instituto   Triangulino    de    Cultura,    2012)

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* Guido Bilharinho é advogado atuante em Uberaba, editor da revista internacional de poesia Dimensão de 1980 a 2000 e autor de livros de literatura, cinema, história do Brasil e regional.

sexta-feira, 10 de julho de 2015


Difícil de explicar 
e de entender

Cesar Vanucci

“A confusão era geral!”
(Machado de Assis, numa frase, extraída do livro “Dom Casmurro” que se ajusta como luva de pelica para descrever a encrenca no Oriente)

Barafunda colossal! Por isso vamos ver se este desajeitado escriba dá conta de explicar e se o condescendente leitor dá conta de entender.

A baita encrenca bélica no Oriente com destaque para as frentes de batalha na Síria e no Iraque, como já dito noutra ocasião, reveste-se de características orwellianas. Em outras palavras, produz a sensação de haver sido extraída das descrições sobre desavenças geopolíticas registradas nas páginas do  “1984”, livro que celebrizou as façanhas do “Grande Irmão”. Fica danado de difícil para os observadores distinguir, no conflituoso emaranhado geopolítico, quem está mesmo a favor de quem, ou quem está mesmo contra quem.

A Arábia Saudita, sunita, e o Irã, xiita, como público e notório, não rezam definitivamente pela mesma cartilha. Vivem se estranhando. Nada obstante, com esforços isolados, cada qual ao seu estilo, empenham-se em combater o sinistro Estado Islâmico, de tendência jihadista. Seja lembrado, neste preciso instante, que o jihadismo é um movimento fundamentalista religioso, sustentado na base de feroz fanatismo, com poderosas raízes fincadas exatamente na medieval sociedade saudita. Os sauditas, sem embargo disso, desempenham papel importante na coalizão liderada pelos Estados Unidos que chamou a si a responsabilidade pelos bombardeios sistemáticos das posições dos extremistas do tal Califado, numa tentativa de impedir sua expansão pelas terras síria e iraquiana.

Cabe aqui mais um registro desconcertante: das fileiras dessa tresloucada falange terrorista fazem parte, segundo recente estimativa, 30 mil rapazes e moças de nacionalidade europeia, juntamente com alguns americanos. O Irã, a seu turno, combate o Califado utilizando aguerridas milícias. Estas milícias iranianas dão apoio ao governo da Síria, ferozmente combatido pelo Estado Islâmico. Acontece que os governos ocidentais, bem como a Arábia Saudita, asseguram avantajada ajuda militar às forças concentradas na derrubada da ditadura de Damasco. As forças em questão, seja enfatizado, são constituídas predominantemente de elementos do próprio EI (Estado Islâmico), ou seja, o Califado, inimigo declarado de todos. Acrescente-se a informação de que o exército iraquiano tem também presença realçante nessa briga contra o Califado. Mas sua atuação não é conjugada nem com os xiitas iranianos, nem com os milicianos curdos, outro agrupamento engajado na amalucada contenda. Os curdos, adversários do EI, compõem uma comunidade que não esconde o propósito de se firmar como estado soberano, apoderando-se justamente de uma fatia territorial de seu “eventual aliado”, o Iraque. Pra aumentar a complicação, o Hezbollah, cujas operações principais estão baseadas no Líbano, igualmente xiita e aliado dos governantes sírios, é outro grupamento guerrilheiro que se antepõe ao Estado Islâmico. Tanto os Estados Unidos quanto Israel têm-no como grupo terrorista radical.

Toda essa confusão das arábias é marcada por batalhas sangrentas, atrocidades inauditas, destruição de valiosos patrimônios, muito horror, morte de milhares de inocentes, levas intermináveis de refugiados sem rumo. Gera, obviamente, com constância, constrangimentos militares e diplomáticos inimagináveis. Além de deixar imersos – visto está – no mais completo aturdimento os observadores que se esforçam por manter atualizadas as informações sobre as desconcertantes marchas e contramarchas dos acontecimentos naquelas convulsionadas bandas do mundo.

Estas considerações já haviam sido digitadas quando os veículos de comunicação trouxeram ao mundo mais uma espantosa revelação: os fanáticos guerrilheiros do Califado exibiram em vídeo imagens, como sempre horrendas, da decapitação de adversários. Só que as vítimas de agora são elementos pertencentes às fileiras da Al Qaeda...


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Cesar Vanucci

“Macumbeira, macumbeira, vá queimar no inferno!”
(Termos usados pelos fanáticos religiosos que apedrejaram uma adolescente quando saia de um culto de candomblé)

Os iracundos patrulheiros talebanistas não esmorecem no propósito de disseminar o germe da intolerância nas atividades cotidianas. Atiram pedras em pessoas que participam de um culto afro-brasileiro. Postam-se nas imediações do órgão incumbido da perícia relativa às lesões sofridas pelas vítimas, voltando a agredi-las, em coro, com doestos e gestos raiventos. Picham paredes e divulgam mensagens contendo ameaças homofóbicas na Universidade. Articulam boicote a produtos de uma empresa pela circunstância de não “aprovarem” os termos de um reclame publicitário. Escancaram nas redes sociais seus incuráveis preconceitos e frustrações, suas indeclináveis tendências totalitárias para alvejar autoridades, líderes políticos e instituições republicanas, pregando abertamente a substituição do regime democrático pela tirania. Pintam e bordam por aí com suas posturas obscurantistas, nutrindo intimamente, com certeza, ressentimentos atrozes face ao fato de não encontrarem por aqui, nestes nossos pagos brasílicos, a mesma calorosa receptividade que partidários de suas ideias e comportamento retrógados encontram em lugares como a Arábia Saudita, Irã, Paquistão, Afeganistão, entre outros, sem falar nos maltratados redutos dominados pelos desvairados “guerreiros da moral e dos costumes” do “Califado do terror”.

Delação premiada.
O controvertido instrumento da “delação premiada” é recebido, nalguns redutos, como prova definitiva e cabal de culpabilidade das pessoas eventualmente acusadas de atos ilícitos.
O novo Ministro do Supremo Tribunal Federal, Edson Fachin, manifestou-se de forma bastante lúcida a respeito dessa equivocada interpretação. Esclareceu que ninguém, no regime democrático, pode ser julgado e condenado com base, única e exclusivamente, em denúncias feitas por elementos que assinaram com a Justiça acordo de “delação premiada”. Acrescentou que a delação assim apresentada não passa mesmo de mero “indício de prova”. “Precisa, por tal motivo – lembrou – ser secundada por outra prova idônea, pertinente e contundente, que são as características que a gente tipifica como uma prova capaz de permitir o julgamento e o apenamento de quem tenha cometido alguma infração criminal.”

Tom pessimista.
A divulgação a respeito pecou pela excessiva discreção. Poucos se inteiraram do que foi enfatizado como resposta num quesito de recente pesquisa do Ibope, atinente a temas políticos e administrativos. Focalizando o papel da mídia brasileira, o item proposto na consulta teve os seguintes dizeres: “A imprensa brasileira mostra o País numa situação mais negativa do que a que (como cidadão) percebo no meu dia a dia?”
Quarenta e um por cento dos entrevistados manifestaram o ponto de vista de que isso realmente acontece. Tal impressão encontra alicerce, bem provavelmente, em noticiário e artigos revestidos de tom geralmente pessimista ao tratar das coisas brasileiras. Valha como ilustração o intrigante titulo empregado, semanas atrás, por festejado analista econômico ao colocar seu público leitor a par dos investimentos, da ordem de 53 bilhões de dólares, que os chineses pretendem aplicar no Brasil: “O país de pires na mão!”. Ora, epa!



Novas frustrações
à vista

 Cesar Vanucci

“Do jeito que as coisas andam, o futebol brasileiro
vai acabar deixando de ser a alegria do povo.”
(Antônio Luiz da Costa, professor)

Não vai dar outra. Se a CBF persistir, pirracentamente, na disposição de não revolver, de imediato, cabo a rabo, adotando medidas impactantes, a estrutura organizacional da seleção, o futebol brasileiro, como dois e dois são quatro, amargará antes do final do ano outra acachapante frustração.

Permanecerá de fora, pela primeira vez, de uma Copa Mundial.  Com esse desempenho mixuruca apresentado na Copa América, os “legionários estrangeiros” – segundo suspeitas levantadas pela crônica especializada, escalados por empresários engajados nos rendosos esquemas de negociações de passes – serão inevitavelmente protagonistas de novo e retumbante fiasco. A desclassificação será “favas contadas”. E não é difícil prognosticar que, em sequência próxima, a tão almejada conquista do ouro olímpico ficará também pras calendas.

Malíssimamente treinado, influenciado pra valer pela postura chiliquenta de seu astro mais badalado, o escrete de Dunga é, sem sombra de dúvida, o menos criativo, menos produtivo grupo já reunido com a incumbência de representar as gloriosas cores brasileiras em competições. Os preparativos, daqui pra frente, a não ser que queiramos acumular mais vexames, terão que ser processados a partir do ponto zero. As circunstâncias reclamam outra comissão técnica. Plantel de atletas totalmente reformulado. Além, tá claro, outro estilo de conduta no gramado.

A escolha de um treinador com maior capacitação afigura-se imprescindível. No processo de transmutação a que se terá de recorrer, na tentativa de recuperação do tempo perdido, por que não se cogitar, na escolha do técnico, de alguém como, por exemplo, Marcelo de Oliveira, de cujo concurso, em instante nada inspirado, a diretoria do Cruzeiro resolveu abrir mão?

A ele, ou a outro técnico do mesmo naipe, que seja possuidor de ideias mais arejadas, com um melhor conhecimento de causa, ficaria confiada a missão de reorganizar a seleção. A convocação, no novo modelo operacional, contemplaria apenas e exclusivamente ou, então, majoritariamente, valores que estejam em ação nos torneios brasileiros. O vitorioso passado de nosso futebol chancela essa fórmula. De anos a esta parte, coincidindo justamente com o incômodo somatório de resultados adversos, essa fórmula foi deixada, incompreensivelmente, de lado. O nível técnico do nosso futebol parece já não ser o mesmo de outros tempos. Mas, cá pra nós, é hora de admitir sem hesitações que os jogadores chamados não são em nada superiores aos que atuam por aqui. Com a dispensa de convocações externas estaremos, provavelmente, em melhores condições de compor um time mais articulado, mais bem treinado, identificado neste momento com o sentimento popular.

As considerações acima já haviam sido lançadas no papel quando foi anunciada a decisão da CBF de não mexer no time que está perdendo... “Tamo n’água!”, como era de costume dizer-se em tempos de antanho.



 



  


Carlos Perktold *

Carlos Bracher – 
Energias Sagradas


 Quem já viu Carlos Bracher pintar, sabe que é um ritual de energias sagradas. Primeiro é necessário ouvir um concerto barroco. “Canon” de Pachelbel é o mais-que-perfeito. Bach ou Handel, com pequenas concessões para Jean Michael Jarre, também são freqüentes. Para presenciar o ritual e participar dele como espectador, a música precisa ser ouvida alta, comme il faut. O ambiente é um atelier caseiro de Ouro Preto, o que, por si só, já é um alento para nossa alma globalizada. Do somatório desses elementos faz-se uma equação de barroco+barroco = uma pintura soberba. Como num concerto anunciado, basta aguardar.
A “orchestra” já está no cavalete. O maestro esfrega as mãos e olha a tela branca à sua frente. É a sua vítima agradecida. Fusain preso nos dedos, marca nela os traços básicos da composição, materializada como um fantasma desperto. Em seguida, é a vez do pincel ou da brocha nas mãos. Cobre, então, rapidamente as imagens do carvão com as cores pré-escolhidas. Aquelas desaparecem, ficando retidas apenas na sua visão interna. Na memória visual do pintor o quadro já está pronto.
A cada minuto de pintura, ele nos mostra formas e conteúdos que se modificam a todo momento. Pura mágica. Na tela, traços seguros marcam o centro da composição. A partir daí, são movimentos fixando cada compasso dessa sinfonia pictórica.
Bracher fez tudo isso quando pintou o retrato do jornalista Geraldo Magalhães. Em menos de dois minutos, literalmente, lá estava o modelo num desenho a carvão na tela e que até hoje nos penitenciamos de não lhe ter recomendado parar, assinalar o tempo, assiná-lo, fixá-lo e começar outro. Hoje existe um belo retrato a óleo, mas o desenho magistral de dois minutos perdeu-se para sempre.
Bracher é assim. Desenha e pinta rápido, com a simplicidade de traços que trazem resultados reservados para aqueles que têm o talento. Pintando é impiedoso com a tela, com as cores, com os pincéis e até mesmo com as molduras, depois que sua obra está assinada. Mantém com esses materiais uma relação de senhor dominador e eles respondem agradecidos, porque sabem que o resultado é a recompensa da beleza perene. É pintura de grande massa, ocupando a tela com atividade e movimento, tão característicos do barroco.
Os trabalhos iniciais de Carlos Bracher indicavam uma contínua elaboração pictórica, perceptível apenas para quem acompanha o trabalho do artista durante uma vida ou numa retrospectiva. Ele nunca fez opção por meias soluções ou efeitos fáceis para agradar público ou mercado, optando pelo que acreditava e ao que era sincero.
Mineiro de nascença, de escolha, de fé e de alma, vive nas montanhas de Ouro Preto há mais de trinta anos e as usa, não para se cercar e proteger, comportamento tão próprio de nossa gente. De lá é possível avistar sua mineiridade universal que está no conteúdo do barroco mineiro, nas paisagens de Ouro Preto, Congonhas, Prado, Tiradentes e até dentro da usina de aço. Aço nos remete à força de uma chapa espessa desse material, mas nos associa à leveza do flandre que seus quadros transmitem trazendo ainda consigo as exigências da magia que toda obra de arte requer: cor, equilíbrio, composição, tensão e um mistério que nos intriga, instiga e nos inquieta de forma agradável.
Mas se é preciso despertar o desenhista ou o retratista de alma, esse tema tão difícil e reservado apenas para os presenteados com o talento absoluto e, infelizmente, ainda tão maltratado pelas entranhas do mercado de arte, aí está ele, atuando como um Rei Midas moderno, onde tudo que toca vira arte. Fidelíssimo a si mesmo, sempre se manteve longe de qualquer modismo, essa eterna máscara da morte em arte, conservando nas suas composições singularidade de ser apenas Bracher, dono de seu estilo, senhor de si mesmo.
Aliás estilo próprio de alguns mineiros como Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade e Guignard, o dono das Minas Gerais. Vindo de uma geração que não conheceu pessoalmente o grande divisor da pintura em Minas, Bracher não teve a influência do mestre fluminense-mineiro, o que em Minas, e em especial na sua geração, é de um heroísmo impar. Mas, sábio, deixou-se influenciar por seu amigo, o velho mestre de Barbacena, Emeric Marcier. Houve uma época em que ambos usavam a respiração do suporte como parte da cor da composição e o ocre era a cor preferida dos dois. Esta, como se sabe, é de difícil colocação. Tempos da década de 80, quando o mestre de Barbacena ainda contribuía para a grandeza de Minas e influenciava gente brilhante da geração que se seguiu à dele.

Seus trabalhos comprovam a asserção de que tudo na vida é a longo prazo, mesmo para os talentosos de maturidade absoluta.

* Psicólogo. Psicanalista. Membro do Círculo Psicanalítico de Minas Gerais, do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, da Associação Brasileira de Críticos de Arte e da Associação Internacional de Críticos de Arte 

Fonte: www.portalartes.com.br

A SAGA LANDELL MOURA

Pacto sinistro

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