sexta-feira, 29 de julho de 2016





Festa memorável na Amulmig

Cesar Vanucci

“A palavra é o instrumental de um escritor, que a
 maneja na concretização de seus ideais literários.”
(Acadêmica Elizabeth Rennó)


O conceito e o prestígio da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais ficaram exuberantemente demonstrados, outra vez mais, com a sessão festiva de posse da diretoria que irá reger os destinos da instituição no próximo biênio. Festividade memorável, aglutinou personagens de alta representatividade cultural. Foram tantos a ponto de as dependências da charmosa sede da Amulmig, localizada no Alto das Mangabeiras, proximidades da praça do Papa, mostrarem-se até reduzidas para acolhê-los.

O Secretário de Estado da Cultura de Minas Gerais, Ângelo Oswaldo, saudou os membros da entidade em nome do Governador Fernando Pimentel. Integrantes de mais de duas dezenas de órgãos culturais e artísticos, da Capital e do interior, parlamentares, líderes classistas, dirigentes de Lions Clube, jornalistas também marcaram presença no concorridíssimo evento.

Possuído naturalmente de forte emoção, este escriba amigo de vocês assumiu a presidência da casa. Registrei na ocasião e repito agora: não há como não me sentir orgulhoso, mesmo consciente da acanhada bagagem cultural carregada, no momento em que o bastão de comando de uma organização da relevância da Amulmig me é passado por alguém do porte intelectual de Elizabeth Rennó. A laureada escritora e poeta foi guindada recentemente, por indiscutíveis méritos, à presidência da Academia Mineira de Letras. Trata-se da primeira mulher a assumir o posto na centenária e veneranda instituição. Isso, convenhamos, não é pouco, mesmo para quem, como ela, conseguiu escalar os cumes himalaianos da criação literária.

Em esplêndido pronunciamento, aplaudido com entusiasmo pela plateia, Elizabeth fez um circunstanciado apanhado histórico da entidade de que é associada desde 1990 e que dirigiu, com notável descortino, por oito anos. Enalteceu o papel desempenhado pelos seus antecessores na solidificação e contínua expansão do trabalho de difusão cultural executado pela Municipalista. Referiu-se, com simpatia e reverência, a todos eles: Alfredo Marques Viana de Gois, o fundador, Tasso Ramos de Carvalho, Jésus Trindade Barreto e Luiz Carlos Abritta. “Procurei, com as bênçãos de São Francisco, nosso patrono, exercer o fazer literário pela fraternidade e união entre os nossos acadêmicos, na doação da palavra, instrumental primeiro para um labor consciente”, foi o que afirmou num dos trechos do discurso. Mais adiante, ressaltou: “Longe de ser um organismo apático e desinteressado pelo mundo que o rodeia, as Academias de Letras têm como escopo, gravado no seu compromisso de posse, o pugnar pela pureza do idioma pátrio, procurando sempre os sítios do Bem, do Belo e da Verdade. A língua é a nossa pátria, digna em seu exato e claro desempenho, interpretada pelo nosso trabalho literário e acadêmico, louvada em ação participativa.” Noutro momento, lembrou que “a palavra é o instrumental de um escritor, que a maneja na concretização de seus ideais literários” e desejou “que a nossa palavra esteja voltada para as exigências da matéria e do espírito, na acepção tomista de que o ser é composto de corpo e alma”. Acrescentou: “Nesta dicotomia, é preciso separar o joio do trigo visando ao crescimento do ser.”

Também discursaram a presidente da Academia de Letras do Triângulo Mineiro, Ilcea Borba Marquez, e a governadora do Lions, Maria Jorge Abrão de Castro.

Junto com a diretoria, foram também empossados os componentes dos Conselhos Superior e Fiscal, das Comissões de Avaliação, Relações Públicas e de Artes. A composição da diretoria da Amulmig ficou sendo a seguinte: presidente, Cesar Pereira Vanucci; ex-presidente, Elisabeth Fernandes Rennó de Castro Santos (também presidente do Conselho Superior); primeiro vice-presidente, Maurício Braga de Mendonça; segunda vice-presidente, Maria Auxiliadora de Carvalho e Lago; secretária-geral, Maria Lúcia de Godoy Pereira; primeira secretária, Marilene Guzella Martins Lemos; segundo secretário, João Quintino da Silva; primeira tesoureira, Ângela Togeiro Ferreira; segunda tesoureira, Maria Armanda Capelão Ferreira; primeira bibliotecária, Maria de Lourdes Rabello Villares e segunda bibliotecária, Eva Maria Queiróz.

Pronunciamento de Cesar Vanucci na posse como presidente da AMULMIG, em 19 de julho de 2016



Antes de tudo mais, uma sincera palavra de agradecimento aos que aqui comparecem. São presenças sumamente honrosas. Tornam feérico e amorável este nosso evento.

Caríssimos amigos,
Prezados confrades,
 Chego à presidência desta Academia com incontível júbilo no coração. Não há como ocultar ainda um certo sentimento de orgulho, mesmo consciente  da acanhada bagagem cultural que carrego.
Como não desfrutar, à larga, de tão gratificantes emoções, num momento em que o bastão de comando de uma instituição da importância cultural da Amulmig me é passado por alguém do porte intelectual de Elizabeth Rennó? Esta laureada escritora e poeta acaba de ser guindada, por méritos amplamente reconhecidos pela comunidade cultural, à presidência da Academia Mineira de Letras. É a primeira mulher a galgar o posto na centenária trajetória da veneranda instituição. Isso não é pouco, mesmo para quem, como ela, conseguiu escalar cumes himalaianos da criação literária.
Devo confessar agora, em lisa e leal verdade, não saber senão muito poucas coisas. Não ouso, em sendo assim, assegurar sejam os atributos por mim trazidos suficientes para dar continuação, com a mesma fecundidade empreendedora, às ações promovidas nesta confraria da inteligência, arte e cultura.
O brilhante Acadêmico Luiz Carlos Abritta, presidente emérito, define a Amulmig como “um oásis de confraternização, solidariedade e amizade”. Está coberto de razão.
Pretendo, com o concurso dos valorosos companheiros da diretoria e demais acadêmicos, colocar todo empenho em favor da sustentação - se possível, da ampliação - do brilhante trabalho levado avante até aqui por esta instituição, de maneira que ela possa continuar sendo um pujante centro de irradiação cultural.
Faço parte dos quadros da Municipalista desde 2008. Mas acompanho suas atividades há mais tempo.
A saudosa conterrânea Eva Reis, festejada poeta, convidou-me para saudá-la na sessão, idos de 60, em que se deu seu ingresso nesta Casa.
Na saudação, sustentei que a música popular brasileira oferece extraordinário manancial poético. Recorri a uma certa fala de Manuel Bandeira em que o vate pernambucano, craque nacional na manifestação poética, destacou o verso “tu pisavas nos astros distraída”, de Orestes Barbosa, na linda canção “Chão de estrelas”, em parceria com Silvio Caldas, como o mais belo da poesia brasileira.
O que sobreveio estava fora do enredo. Ilustre membro da Amulmig, intelectual renomado, já não mais em nosso convívio, discordou de minhas singelas observações. Aparteou-me com veemência, introduzindo na cerimônia, pra surpresa geral, inusitada polêmica.
O inesperado lance ajudou-me a compreender aquilo que, muitos anos depois, o nosso estimado Murilo Badaró, saudoso presidente da Academia Mineira de Letras, andou explicando em sábio pronunciamento: as academias não comportam dissidências, mas em razão do acendrado respeito à liberdade de expressão, são palco permanente de naturais divergências.
As discordâncias não impedem o entendimento convergente quanto à missão institucional, constante do compromisso ético e dever cívico de zelar pela cultura e pelo idioma.
A celebração da vida – proclamam humanistas e espiritualistas – é escorada nas diversidades. Diversidade no plano das ideias, das crenças, das atitudes comportamentais, dos hábitos e dos costumes. O todo assombroso do cosmos e da natureza é composto de variedades e diversidades.   Acatar a diversidade, respeitar as diferenças, como fazem na plenitude do exercício democrático os órgãos representativos da cultura, são formas de resistir às impertinências dos radicalismos bolorentos que, na hora presente, tantos malefícios provocam na convivência social.    

Amigos diletos,
Vou guardar desta sessão festiva imorredouras lembranças. Dessas lembranças que a gente costuma depositar com ternura no escaninho da memória em que se alojam anotações marcantes de nossa peregrinação pela pátria terrena.

Senhoras e senhores,
Não resisto à tentação de uma palavrinha sobre minhas origens. Nasci em Pouso Alegre, maravilhoso burgo do Sul de Minas. Mas despertei mesmo para a vida consciente em Uberaba, lugar repleto de fascínios, inclusive no plano místico.
Saí de Uberaba em 1965. Mas Uberaba não saiu, jeito maneira, de mim. Naquelas paragens tomadas pelas ondulações verdejantes dos chapadões sem fim, delineando exuberante fronteira agrícola, embasei minha preparação para o jogo da vida.
Por conta do apego à leitura, incentivado pelos meus saudosos pais, Tonão e Tonica, deixei-me enfeitiçar, meninote, pela magia da palavra.
Pela prosa requintada de Machado.
Pelo linguajar incomparável de Guimarães, desenhista de tipos esfuziantes na maneira singela de agarrar as dádivas da existência, projetadas nas emoções e paixões das multidões anônimas.
Pelo verbo incandescente de Monteiro Lobato, para ficar em apenas três dos escritores brasileiros de minha especial predileção. Pelo inconformismo social jorrado do verbo de Castro Alves. Pelo lirismo impregnado de cores e sons brasileiríssimos dos cânticos de Catulo da Paixão Cearense. Injustamente envolto, que nem acontece também com Lobato, nas brumas do esquecimento nesses tempos de banalização do termo celebridade, Catulo foi, com certeza, o primeiro violão da grande sinfônica poética nacional. Júlio Verne foi um escritor estrangeiro que frequentou, assiduamente, meus devaneios na meninice.
Engajei-me em Uberaba num sem número de projetos culturais. Participei, “benjamim” da turma, do time fundador da Academia de Letras do Triângulo.
Editei, em diário local, um suplemento literário semanal. Colaborei na constituição de clube de cinema, companhia teatral e instituição consagrada ao folclore.
Fui professor de Técnica de Redação no primeiro curso de Jornalismo em Minas.
Integrei o primeiro grupo de trabalho constituído pelo MEC visando a elaboração de estudos para a criação de um sistema educativo de tevê.
Enfrentei duras, mas reconfortantes porfias, travadas com ardor em favor dos direitos sociais.
Fiz em Uberaba descobertas essenciais. Aprendi que fora da solidariedade social não há saída. Aprendi que a salvação do homem, como explicava Tristão de Athayde, não vem do leste nem do oeste, do norte nem do sul. Não promana - acrescento prontamente - das lateralidades ideológicas incendiárias.  Voltando a Tristão de Athayde: A salvação do homem vem do Alto.
Descobri também que cada ser humano carrega dentro de si uma cidadania cósmica. E que, na estonteante escala sideral, as coisas não são tão fantásticas quanto a gente imagina, mas bem mais fantásticas do que a gente jamais conseguirá imaginar, como propôs Pierre Teilhard de Chardin.
Advogado do Sesi, convidado a ocupar a Superintendência Geral do Sistema Fiemg, vim de muda para Belo Horizonte, cidade que me concedeu honroso título de cidadania, por generosidade do ex-vereador José Domingues. Participei, na linha de frente executiva, por quase quatro décadas, do arrojado programa de obras culturais, educacionais e sociais levado a cabo pelas instituições da indústria.
Em minha tenda de trabalho no Sesi nasceu, recebeu batismo, foi formatada e, depois, espalhada a todos os pontos do País, a famosa “Ação Global”, matriz dos programas sociais de atendimento comunitário em alta escala.
Presidi a Universidade do Trabalho e na direção da Redeminas de Televisão criei numerosos programas de conteúdo cultural.
No Lions Clube, concorri para a estruturação da Academia Mineira de Leonismo, sendo seu atual presidente.
Aprendi a amar BH em sua vocação para práticas humanísticas e sociais, de larga influência em meu destino espiritual e profissional.
Fortaleci, também, em BH, minhas crenças democráticas, minha ojeriza por qualquer forma de opressão às liberdades.
Centro de excelência do pensamento político nacional, BH merece ser ainda admirada nas afirmações soberbas de sua cultura e artes erudita e popular.

Senhoras e senhores,
Conferindo dinamismo e vibração às ideias, a palavra é pura magia. Aliás, Ronsard garante ser a única magia. E tudo porque, segundo o pensador, a alma é conduzida e regida pela palavra e a palavra é sempre dona do coração.
Os praticantes do ofício das letras, conscientes de que sua arte é forma sublime de expressão dos sentimentos, usam do poder mágico da palavra para celebrar a vida. Utilizam seu talento para espalhar beleza, expandir a consciência humana, apontar trilhas, criar condições perenes de ascensão social.
Transformam o ato de viver numa aventura poética. “A vida se vive e se escreve”, proclama Pirandello.
Isso remete à constatação de que a palavra, como acontece também com os outros dons concedidos ao homem em sua infatigável busca do sentido das coisas, deve sempre revestir-se de significado social.
O valor que mais importa no processo civilizatório é o social. Reside aí a razão pela qual os arautos da palavra, em todas as modalidades, fazem jus a reconhecimento como ministros da palavra social.
A honrosa condição implica em assumir posicionamentos decisivos diante das coisas do mundo. Esse mundo de Deus, onde o tinhoso persevera em implantar enclaves. Mundo que anda precisado demais da conta de ser reconectado com sua humanidade.
No confuso e conturbado contexto brasileiro, a palavra social não pode deixar de eleger a prevalência da conduta ética na vida pública como prioridade absoluta.
“Quando eu morrer, vou contar tudo a Deus!”
Este sofrido desabafo, estraçalhante prova dos horrores provocados pela insensatez humana, foi ouvido outro dia na boca de um garotinho sírio de rosto ensanguentado e olhar angustiado. Soa como sonora bofetada na cara dos “donos do mundo”.
Ricocheteia, com seu impacto acabrunhante, nas mentes e corações de toda a humanidade. “Quando eu morrer, vou contar tudo a Deus!”
Na verdade, são coisas demais a contar a Deus sobre o que anda acontecendo.
Há o flagelo da fome, o terror das guerras e as guerras do terror, abominadas pelas mães, conforme Horácio, e todas as calamidades delas decorrentes.
A fileira das agressões à dignidade humana é extensa. Sinistra onda de terrorismo, intolerâncias de cunho religioso, étnico e político no plano das ideias e dos costumes inspiram virulências contra criaturas indefesas em numerosos cantos do planeta.
As levas de refugiados atingem a contagem assustadora de sessenta e cinco milhões. Mais do que a população inteira somada da Argentina, Chile e Uruguai.
A corrida armamentista, que consome milhares de vidas e trilhões de metal sonante; a corrupção sistêmica, universal, corrosiva; as gritantes desigualdades na partilha das riquezas nascidas do labor da sociedade; a escassez de alimentos e de água; a miséria aviltante; a falta de assistência sanitária e de recursos educacionais básicos; tudo isso tendo por origem uma ordem social e econômica que – como não? – clama por revisão, são situações em frontal colisão com as propostas do projeto da criação desenhado nas planilhas divinas para o desfrute dos homens e mulheres de boa vontade.
Vamos lá. Como entender, à luz desse projeto, que as fortunas pessoais somadas dos oitenta caras mais ricos do mundo possam igualar-se ao patrimônio acumulado de metade da população do planeta, conforme denúncia da ONU?
Coisas demais a contar a Deus...

Meus diletos amigos,
Comentei pratrazmente que uma Academia, guardiã serena de saberes acumulados, depositária de caras tradições culturais – tradição inclusive do novo, sem que isso possa ser encarado como contrassenso - tem por objetivo relevante salvaguardar os valores da cultura nacional e a pureza do idioma. Monteiro Lobato não deixa por menos: o idioma é a Pátria!
Reportando-me aos valores citados é frustrante registrar a ocorrência, amiúde, em unidades do sistema educacional do incremento de comemorações alheias ao sentimento nacional, tipo halloween e quejandos, em detrimento de celebrações folclóricas e cívicas verdadeiramente representativas de nossa história, de nossas tradições populares.
Doutra parte, há que se deplorar, o emprego desabrido, como tanto se vê na televisão, na publicidade, na marquetagem de produtos, de vocábulos estrangeiros para classificar coisas óbvias do cotidiano. Essa macdonaldização da língua sinaliza claramente pauperismo intelectual, indigência cívica, subserviência cultural e babaquice ampla, geral e irrestrita.
Estabeleci em minha rotina alguns mecanismos de resistência a esse modismo desagregador. Para quem me traz um “book” pra avaliação, peço que retorne outro dia com seu currículo. A quem me promete dar um “feedback” costumo agradecer e perguntar se se trata de uma nova marca de uísque escocês ou de presunto neozelandês. Não entro em loja que anuncie queima com cartazes estampando “sale” e “off”. Em meus tempos de televisão recomendei enfaticamente aos colaboradores que substituíssem os tais de “breaks” por intervalo, pausa, por aí. Um amigo certa vez confessou não ousar mandar-me ir a um “fast food” com receio da resposta...

Ilustres convidados,
Deixei por último, nesta fala que não consegui fazer menos espichada, a reafirmação de minha crença nos valores caros da brasilidade. Mesmo em momentos marcados pelas adversidades é preciso aprender a cultivar o sentimento nacional.
O Brasil é maior, infinitamente maior, do que os problemas gerados pelos desatinos políticos e incompetência administrativa, que tanta indignação e frustração descarregam na alma das ruas. Não temos como desacreditar das virtualidades de nossa gente. Não temos também como desconhecer das potencialidades incomparáveis deste País continente.
No fundo, bem no fundo do coração, cada brasileiro transporta a esperança ardente de que as nuvens espessas deste momento conturbado possam ser em breve dissipadas. Poderosa egrégora energética, nascida nos corações fervorosos de brasileiros e brasileiras de boa vontade, haverá de inundar de luminosidade intensa os horizontes, anunciando a reavaliação de rumos na invasão do futuro. O Brasil é que nem o mar. Não se pode descrever o mar utilizando palavras referentes aos enjoos de travessias de curta duração.
Com criatividade, empregando adequadamente os recursos dadivosos, mercê de Deus disponíveis, conseguiremos certeiramente reabrir frentes de trabalho que permitam novos avanços econômicos e sociais.
O Brasil já deu mostras abundantes de que abomina a corrupção, os desmandos administrativos, a politiquice rasteira. Rejeita, também, a recessão econômica, por sentir-se credenciado a promover em alta escala, com possibilidades de êxito bem superiores às chances de outros países, o bem estar social almejado nas propostas do Estado, tantas vezes postergadas, e nas aspirações da sociedade.
Por absorver convictamente os conceitos expostos, prevaleço-me deste encontro amorável de hoje, com diletos amigos, para lançar um singelo livreto, intitulado “O Brasil bem brasileiro de JK”.
Assinalo no trabalho lances significativos da vida e obra do maior estadista brasileiro de todos os tempos.  O Nonô, de Diamantina, um cidadão que amou seu país, que sabia das coisas e que sabia também construir coisas grandiosas.
Considerei de oportunidade escrever e editar tal publicação atento às circunstâncias de que Juscelino Kubitschek de Oliveira foi alguém que encarnou admiravelmente o sentimento nacional; acreditou arrebatadoramente nas virtualidades e potencialidades deste País; projetou de forma exuberante, sem equivalência entre seus pares, um estilo de liderança do qual nos achamos terrivelmente carentes nesta hora de decepções e perplexidades.
É estimulante, muito estimulante, redescobrir JK nesta quadra da vida nacional.
Isso aí, minha gente.
As utopias são parte indissociável da aventura humana.
“Sonho, logo existo”, revelou alguém, algum dia, em algum lugar.
Desajeitado propagador de ideias que costumam roçar as fimbrias da quimera, não abdico, apesar de tudo quanto rola por aí, de minhas crenças humanísticas.
É a maneira que encontro de compreender e explicar o sentido da vida.

Flagrantes da solenidade festiva na sede da Amulmig

  
Deputado Federal Adelmo Leão e Cesar Vanucci


Secretário de Estado da Cultura Angelo Oswaldo, acadêmica Elizabeth Rennó, presidente da Academia Mineira de Letras, escritor José Humberto Henriques, Ilcea Borba Marquez, presidente da Academia de Letras do Triângulo Mineiro e Antônio Sérgio Marquez

Casal Sérgio Antônio Marquez, ela Ilcea, presidente da Academia de Letras do Triângulo Mineiro, Cesar Vanucci e Luiz Carlos Costa, diretor presidente do Diário do Comércio


Jornalista Rogério Zola Santiago, acadêmicos Marcio Sampaio e Rogério Faria Tavares (ambos da Academia Mineira de Letras) e promotora cultural Alcea Romano


Secretário de Estado da Cultura Angelo Oswaldo, acadêmicos
Luiz Carlos Abritta,  Ângela Togeiro e Elizabeth Rennó


sexta-feira, 22 de julho de 2016

Privatização malograda

Cesar Vanucci

“Modelo de privatização da Telebrás separou o filé do osso”
(Marcos Dantas, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro)

O colapso da OI, nossa maior operadora de telecomunicações, aglutinando mais de 70 milhões de clientes, acabou sendo relegado a plano secundário no foco das preocupações nacionais em decorrência do volume anormal das ocorrências perturbadoras na vida política. Mas não era para ser assim. Esse inesperado pedido de recuperação judicial é de molde a sacudir pra valer o setor em que a empresa atua, com reflexos consideráveis na atividade econômica.

Quando se dá conta das proporções colossais da dívida anunciada – vejam bem, 65 bilhões de reais – a opinião pública se pergunta, aturdida, como foi que os gestores da organização surgida em razão de uma privatização cantada em verso e prosa de respeitável patrimônio estatal, a Telemar, conseguiram produzir desfecho tão indigesto? A explicação mais consentânea com a realidade dos fatos, extraída de avaliações divulgadas por especialistas na área econômica, é a de Samuel Possebon do site “Teletime News”. Foi divulgada em reportagem de capa, edição número 907, da “CartaCapital”. O trabalho proclama, com todas as letras, pontos e vírgulas, que “a supertele foi depredada”, isso aí. Atendendo a interesses pessoais e políticos dos acionistas desde a privatização, “é a mais recente vítima do capitalismo de compadrio”. Aquele tipo manjado de  “capitalismo” que recolhe inspiração na premissa de que o lucro deve ser privatizado e o prejuízo socializado.

É oportuno conhecer, a propósito do assunto, o ponto de vista de Marcos Dantas, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Criticando com veemência o modelo de privatização da Telebrás adotado no Governo FHC, ele o associa ao rotundo fracasso da empreitada empresarial da OI. Esclarece que o modelo brasileiro, diferentemente do que se adotou em privatizações melhormente sucedidas noutros países, favoreceu a investidores interessados apenas no filé, não no osso do negócio. O fracasso da experiência decorreu, em primeiro lugar, da falta de aporte de recursos financeiros externos.  Os investidores nacionais e estrangeiros, espertamente, lançaram mão dos fluxos de caixa existentes nas estatais privatizadas à moda da casa. Foi a fórmula “criativa” encontrada para financiamento dos “investimentos”. E, não nos esqueçamos, recorreram também, ávidos, à reconhecida generosidade do BNDEs. Tal tipo maroto de operação negocial deu causa a uma volumosa transferência de recursos daqui para o exterior. Tudo transcorreu, o tempo todo, ao gosto dos acionistas controladores. Acionistas esses que congregam em suas afortunadas fileiras nomes muitíssimos conhecidos de outros carnavais. Alguns deles, políticos e banqueiros, citados com frequência noutros rolos negociais.

A Anatel, agência reguladora na esfera das telecomunicações, está com um tremendo pepino para descascar, anota Samuel Possebon. Esse órgão governamental assumiu no imbróglio da OI, cumulativamente, funções de regulador, credor, fiscalizador e de buscador de uma solução. A concordatária deve-lhe a bagatela de 10 bilhões. A dívida da OI com bancos públicos eleva-se a mais de 8 bilhões. Já os grandes investidores, esses aí, não estão sendo, por hora pelo menos, nem um tiquinho incomodados pelas proezas executadas através de seus sucessivos rearranjos societários, fusões e quejandos. Ora, veja, pois!

Êta mundo bom!

Cesar Vanucci

“As delações (...) devem ser acolhidas com critério,  exigindo-se a comprovação dos fatos revelados”.
(Álvaro Dias, Senador da República)


O título do comentário, extraído de telenovela de sucesso, foi sugerido por uma leitora declarando-se inconformada com certas concessões dadas pelo Judiciário a alguns caras emaranhados nas teias da Lava-Jato. Elementos que andaram optando pela delação premiada que tantas controvérsias suscita no meio jurídico.

A sombra boa e água fresca asseguradas a esses mafiosos, apoderados de repentino e suspeitoso arrependimento, confessando-se dispostos a dedurar comparsas das malvadezas cometidas e outros presumíveis protagonistas de atos delituosos, vem dando pano pra manga. A opinião pública, de um modo geral, acolhe com perceptível desconforto as notícias a respeito de algumas liberalidades insertas nos acordos firmados. Parece-lhe que, em numerosos casos relatados pela mídia, a delação vem se mostrando para seus autores, medidas e pesadas todas as circunstâncias, bastante compensatória. Eles acabam, afinal de contas, sendo premiados com mordomias que não lhes impede o acesso a um padrão de vida pode-se classificar de edulcorado. O “dolce far niente” prevalece mesmo com a obrigatoriedade do uso das tornozeleiras eletrônicas, por sinal em falta nas repartições competentes... Para muitos juristas, a situação apontada é de molde a recomendar uma reavaliação na sistemática da delação premiada.

De outra parte, os metódicos e estratégicos vazamentos seletivos, até aqui, inexplicavelmente sem identificação de paternidade, são itens do mesmo processo merecedores de atenção acurada.  Um outro ponto no esquema também faz jus, segundo a avaliação de juristas conceituados, a estudos aprofundados. Existe o pressuposto, perfeitamente válido, de que a denominada delação premiada favorece, sob determinados aspectos, a agilização das investigações, tendo ainda o mérito de evitar a prescrição de crimes. Converte-se, por conseguinte, em instrumento bastante valioso na ação saneadora da Justiça. Nada a objetar quanto a isso.

Mas é imperioso guardar, pondera-se, cautela e prudência quanto à divulgação do conteúdo dos depoimentos. É preciso impedir, a todo custo, que pessoas inocentes se tornem alvo de agravos, de condenações sem culpa reconhecida no cartório. O que foi dito, recentemente, pelo senador do PV (Partido Verde) Álvaro Dias, a propósito de tão momentosa questão, reveste-se de bom senso e propriedade: “As delações são costumeiramente compostas de verdades absolutas, meias verdades e algumas mentiras escancaradas, portanto devem ser acolhidas com critério, exigindo-se a comprovação dos fatos revelados”.


sábado, 16 de julho de 2016

POSSE DE VANUCCI NA PRESIDÊNCIA DA AMULMIG


A Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, por sua Presidente Elisabeth Fernandes Rennó de Castro Santos, tem o prazer de convidar V.S.ª e Família para a Sessão Solene de Posse da nova Diretoria da entidade para o biênio 2016-2018, tendo como Presidente o Acadêmico Cesar Vanucci.
A cerimônia será realizada no dia 19 (dezenove) de julho de 2016, terça-feira, às 16 (dezesseis) horas, na sede da Academia, na Rua Agripa de Vasconcelos, 81 – Mangabeiras, Belo Horizonte, Minas Gerais.

A data-limite de 
Chico Xavier



Cesar Vanucci


“O homem começaria a terceira guerra, mas quem
 iria termina-la seriam as forças telúricas da Natureza.”
(Chico Xavier)


Numa palestra feita, ano passado, em encontro nacional dos governadores distritais do Lions Clube, focalizando o tema “Admirável mundo novo: reflexões sobre a fascinante aventura humana, suas venturas e desventuras”, aludi, de passagem, a uma fala profética de Chico Xavier. O carismático líder religioso alertava para os riscos de uma catástrofe universal, com indicação de data-limite para que pudesse acontecer uma reação ajuizada da humanidade no sentido de conter a onda de desvarios praticados. O registro relativo a essa manifestação, desacompanhado de detalhes mais elucidativos, foi reproduzido neste espaço do “DC” frequentado pelo reduzido, posto que leal, grupo de leitores deste desajeitado escrevinhador.

Eis que, agora, numa excelente reportagem de Luciano Lopes, com colaboração de Cristiane Mendonça, estampada na esplêndida revista “Ecológico”, revejo o palpitante assunto enriquecido com informações e depoimentos que vale a pena conhecer. Não resisto à tentação de repassá-lo de forma resumida, recomendando a quem venha se interessar por mais dados a consultar a publicação mencionada (“Ecológico” nº 90).

Na busca do “Chico ecológico”, os autores da reportagem mantiveram contatos com pessoas de sua convivência mais próxima. Célia Diniz, de Pedro Leopoldo, terra natal de Chico, lembra uma frase de autoria dele que aponta a religiosidade como elemento valioso para se reverter a ignorância face às questões naturais: “Sem Deus no coração, as futuras gerações colocarão em risco o futuro do planeta. Por maior que seja o avanço tecnológico é impossível para o homem viver em paz sem que a ideia de Deus espelhe suas decisões”.

Essa linha de raciocínio se desdobra noutra afirmação do famoso sensitivo: “Se nós, cristãos, estivéssemos atentos à preservação dos valores do espírito (...), a poluição da Natureza, nas cidades e nos campos, não seria hoje esse flagelo que está tomando vulto no seio metropolitano. Se nos respeitássemos segundo a Lei Áurea – não deseje para o seu vizinho aquilo que você não deseja para si mesmo –, a poluição talvez nem chegasse a existir”. (...) “Se todo o mundo industrial, todo o campo da educação, todos os grupos sociais e valores que presidem o progresso humano estivessem, quem sabe, condicionados à regra áurea, estaríamos em paz”.

Noutra reflexão, Chico prega a necessidade de se estabelecer uma consciência coletiva vigorosa em torno da preservação do meio ambiente. Assevera: “Antes de o homem surgir na superfície do planeta, o vegetal (...) seguia as leis existentes. Como usufrutuários do universo, saibamos, assim, que toda ação humana contrária à Natureza constitui caminho ao sofrimento. Retiremos dos cenários naturais as lições indispensáveis à nossa vida. Somos interdependentes”.

E quanto “à data-limite”? Documentário com tal título, dirigido por Fábio Medeiros, com produção executiva de Juliano Pozati e Rebeca Casagrande, mostra Chico Xavier anunciando que o ano de 2019 reserva mudanças radicais para a humanidade e o planeta. A Terra poderia deixar de ser mundo de expiação para se tornar um mundo de regeneração. Em depoimento aos seus amigos Geraldo Lemos Neto e Marlene Nobre, esta última de saudosa lembrança, Chico confidenciou que nos planos hierárquicos superiores resolveu-se, em julho de 1969, após a chegada do homem à Lua, “conceder moratória de 50 anos à sociedade terrena, a iniciar-se em 20 de julho de 1969 e findar-se em julho de 2019”. Nesse período, “as nações mais desenvolvidas e responsáveis (...) deveriam aprender a se suportarem umas às outras, respeitando as diferenças entre si, abstendo-se de se lançarem a uma guerra de extermínio nuclear. A face da Terra deveria evitar a todo custo a chamada terceira guerra mundial”. As revelações foram mais longe: a terceira guerra, de consequências imprevisíveis e desastrosas, produziria uma reação violenta da “própria mãe Terra, sob os auspícios da vida maior”.

Chico ainda com a palavra: “O homem começaria a terceira guerra, mas quem iria terminá-la seriam as forças telúricas da Natureza, da própria Terra cansada dos desmandos humanos”.

A profecia acena com uma alternativa positiva: se ao contrário de desencadear uma tragédia bélica, as nações aprendessem a conviver pacífica e fraternalmente, o mundo poderia ingressar  num estágio de evolução fantástico. Os problemas de ordem social e ambiental seriam rapidamente solucionados. As curas de doenças seriam asseguradas. A humanidade teria acesso total à informação e ao conhecimento, além de estabelecer contatos com civilizações extraterrenas que nos ofereceriam novas tecnologias de conforto e bem estar inimagináveis.


Esse Eduardo Cunha...



Cesar Vanucci


“Ele já está alertando os companheiros de caminhada
sobre o “efeito orloff”: hoje eu, amanhã vocês”.
(Domingos Justino Pinto, educador)


Só mesmo criaturas dotadas de irremediável ingenuidade poderiam absorver, a esta altura do campeonato, a ideia de que o infatigável Eduardo Cunha deparou-se, de repente, despojado por inteiro da capacidade de influenciar os efervescentes rumos do processo político brasileiro. Pois sim!

A bem encenada teatralização da renúncia à presidência da Câmara Federal, que abriu para o incrível personagem a ensancha oportunosa de derramar, sob as luzes dos holofotes, copiosas lágrimas crocodilianas, é parte de um incrementado jogo de xadrez. A movimentação das peças promete se arrastar ainda por bom pedaço de tempo. Esperar pela confirmação.

O parlamentar, campeão em indiciamentos pelo Supremo Tribunal Federal (são mais de dez processos), é craque de seleção em urdiduras de bastidores. Sabe costurar conchavos ardilosos com maestria inigualável. A astúcia faz parte de sua rotina.  Conhece todo o repertório de artimanhas processadas por detrás dos reposteiros. Detém inconfessáveis (até agora, pelo menos) segredos. Segredos que podem, nalgum instante, comprometer muitos preclaros cidadãos acima de qualquer suspeita...

Mesmo na hipótese de eventual cassação do mandato parlamentar - cassação essa sujeita, tá na cara, a lances protelatórios movimentados com singular ardor pela “tropa de choque” interpartidária que obedece disciplinadamente à sua voz de comando -, tem-se como absolutamente certo uma coisa. Eduardo Cunha continuará, ainda assim, a exercer papel de inconfundível realce, como protagonista, no enredo político. Atentemos para um elucidativo fato. Não passa um único dia sequer sem que os aguerridos companheiros de Cunha deixem evidenciado o “profundo respeito” dispensado ao ex-presidente do Legislativo, a “admiração” que nutrem pelo seu desempenho, a pronta disposição de acatar, em qualquer circunstância, suas palavras de ordem. E olhem que isso não está adstrito apenas a seus partidários! Noutras legendas, o dito cujo recebe o mesmo tratamento, conta sempre com “incondicional apoio” de leais colaboradores. Para muitos analistas políticos, essa “poderosa liderança” deriva de arranjos, composições e tramoias sem conta. Situações que, algum dia, caso desvendadas, poderão estarrecer, juntas, todas as estátuas de pedra sabão erguidas no adro da Igreja do Senhor Bom Jesus de Matozinhos.
                                       
Faz-se oportuno não olvidar igualmente, como outra inequívoca demonstração de força do Deputado – que já anda alertando colegas de parlamento para os “riscos” do chamado “efeito orloff” –, o estranhável fato de o Presidente interino tê-lo recebido em palácio para confabulações na calada da noite, sem registro na agenda oficial. Tal gesto equivaleria a algo como se, nos tempos do Governo Dilma, a dirigente afastada resolvesse receber, pra papear, qualquer um dos numerosos companheiros indiciados na saneadora operação Lava-Jato. Isso aí!

sábado, 9 de julho de 2016



POSSE DE VANUCCI NA PRESIDÊNCIA DA AMULMIG






A Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, por sua Presidente Elisabeth Fernandes Rennó de Castro Santos, tem o prazer de convidar V.S.ª e Família para a Sessão Solene de Posse da nova Diretoria da entidade para o biênio 2016-2018, tendo como Presidente o Acadêmico Cesar Vanucci.
A cerimônia será realizada no dia 19 (dezenove) de julho de 2016, terça-feira, às 16 (dezesseis) horas, na sede da Academia, na Rua Agripa de Vasconcelos, 81 – Mangabeiras, Belo Horizonte, Minas Gerais.



Contar tudo a Deus

Cesar Vanucci

“Os donos do mundo se mostram indiferentes aos clamores
humanos em prol da paz , da justiça e da solidariedade social.”
(Antônio Luiz da Costa, educador)

“Quando eu morrer, vou contar tudo a Deus!” O desabafo sofrido do garotinho sírio é uma estraçalhante prova dos horrores provocados pela insensatez humana. Soa como uma sonora bofetada na cara dos “donos do mundo”. Ricocheteia, com seu impacto acabrunhante, nas mentes e corações de toda a humanidade. Fica difícil pacas para a grande maioria dos seres humanos conter na alma um frêmito prolongado e gélido, mesclado de indignação e impotência, diante daquela imagem inocente do menor de rosto ensanguentado e olhar angustiado, carregado de perplexidade, estampada via internet mundo afora.

A disposição de “contar tudo a Deus” concentra-se, obviamente, no flagelo da guerra que devasta a terra natal do pequenino. Nos horripilantes dramas pessoais que ele se vê forçado a acompanhar, cotidianamente, na infortunada condição de testemunha ocular. Nas atrocidades praticadas pelos combatentes. No rastro destrutivo incontrolável que ceifa vidas, reduz a escombros patrimônios valiosos, produz milhares de inválidos, gera êxodos colossais, desencadeia as calamidades da fome e das enfermidades.

Mas esse garoto, caso pudesse ter acesso a informações relativas a todas outras mazelas espalhadas por tudo quanto é canto deste mundo de Deus onde o tinhoso tem por costume implantar seus enclaves, conseguiria ampliar em muito o arquivo das revelações que se propõe “levar ao conhecimento” da suprema divindade. Ele iria também explicar, inicialmente, que “a guerra é aquela calamidade composta de todas as calamidades, em que não há mal algum que, ou se não padeça, ou se não tema, nem bem que seja próprio e seguro”, como anotou padre Antônio Vieira, ainda  no século 17.  Iria esclarecer, ainda, que o dilacerado território sírio, de suas doloridas experiências, não é hoje o único pedaço deste planeta azul sacudido pela violência bélica e demais modalidades funestas de agressão à dignidade humana. Existem a deplorar, noutros lugares, conflitos bélicos com as mesmas terríveis características. Há, ainda, uma sinistra onda de terrorismo deflagrada pela fanatice religiosa ou política. A intolerância de cunho étnico e no plano das ideias e costumes “inspira”, de outra parte, a virulência contra criaturas indefesas  em múltiplas regiões. As mencionadas criaturas não rezam nas mesmas “cartilhas doutrinárias” confeccionadas pelo preconceito mórbido, pela xenofobia enferma, pelo machismo tribal e pelos dogmas rançosos cultivados, em tudo quanto é canto, por grupos radicais de diferentes tendências. O garotinho não sabe ainda, mas o número de refugiados - não apenas de procedência síria, por conseguinte, de patrícios seus - espalhados por aí já chega à contagem descomunal de 65 milhões. Mais do que a população inteira somada da Argentina, Chile e Uruguai. A acolhida dispensada em numerosos países às multidões escorraçadas de seus pagos natais é assustadora. Os refúgios mais parecem réplicas dos campos de concentração das eras hitlerista e stalinista, valha-nos senhor Deus dos desgraçados!

A pobreza aviltante, a escassez de alimento e de água, a falta de assistência sanitária e de recursos educacionais básicos, originárias de uma ordem social e econômica perversa, são outros tópicos inevitáveis no relato a ser feito sobre o que alguns setores com poder decisório férreo andam aprontando em nome da humanidade, neste século de esplendor tecnológico. Eles executam, contrariando evidentemente os generosos anseios das parcelas majoritárias de uma sociedade humana sequiosa de justiça, misericórdia, humanismo e solidariedade social, um “processo civilizatório” clamorosamente equivocado. Algo em total e absoluta discordância – não cabe questionamento - com o projeto da criação desenhado nas planilhas divinas para os homens e mulheres de boa-vontade.
Coisa demais a contar a Deus!


Cara de santinho

Cesar Vanucci

“O corrupto tem sempre a cara de quem diz: Não fui eu!”
(Papa Francisco)

Em artigo recente, neste espaço, aludimos de passagem a uma palavra do Papa Francisco em que ele descreve o perfil do cidadão corrupto. Indagações de alguns leitores, interessados em se inteirarem de mais detalhes do pronunciamento, estimularam-nos a retornar ao assunto.

O jornalista italiano Andrea Tornielli, vaticanista, redator do “La Stampa”, é responsável pelo site “Vatican Insider” e colaborador de várias revistas internacionais. Escreveu a primeira biografia de Francisco, o grande estadista mundial providencialmente alçado ao cargo de Pontífice da Igreja Católica. O livro “Francisco, a vida e as ideias do Papa latino-americano” foi traduzido para 16 idiomas.

Uma outra publicação, de autoria do mesmo jornalista, intitulada “O nome de Deus é Misericórdia”, nasceu de uma entrevista de Andrea com Francisco em julho do ano passado, poucos dias depois da visita papal ao Equador, Bolívia e Paraguai. A conversa girou em torno da “misericórdia de Deus”, classificada por Francisco como “a mensagem mais forte do Senhor.”

É do livro mencionado, de enriquecedora leitura, o substancioso trecho da fala de Francisco, referente à corrupção. Reveste-se de refulgente atualidade nestes tempos tumultuados de agora.

O Papa com a palavra: “A corrupção não é um ato, mas uma condição, um estado pessoal e social, no qual a pessoa se habitua a viver. O corrupto está tão fechado e satisfeito em alimentar a sua autossuficiência que não se deixa questionar por nada nem por ninguém. Construiu uma autoestima que se baseia em atitudes fraudulentas: passa a vida buscando os atalhos do oportunismo, ao preço de sua própria dignidade e da dignidade dos outros. O corrupto tem sempre a cara de quem diz: “Não fui eu!” Aquele que minha avó chamava “cara de santinho”.
O corrupto é aquele que se indigna porque lhe roubam a carteira e se lamenta pela falta de policiais nas ruas, mas depois engana o Estado, sonegando impostos, e talvez demita os empregados a cada três meses para evitar contratá-los por tempo indeterminado, ou então possui trabalhadores não registrados. E depois conta vantagem de tudo isso diante dos amigos. É aquele que talvez vá à missa todo domingo, mas não vê nenhum problema em aproveitar a sua posição de poder, para exigir o pagamento de propinas. A corrupção faz perder o pudor que protege a verdade, a bondade, a beleza. O corrupto muitas vezes não se dá conta do seu estado, do mesmo modo que quem tem mau hálito e não se dá conta. E não é fácil para o corrupto sair dessa condição por um remorso interior. Geralmente o Senhor o salva por meio das grandes provas da vida, situações que não pode evitar e que destroem a máscara construída pouco a pouco, permitindo assim à graça de Deus entrar.”

Animamo-nos a perguntar ao distinto leitor, depois de visto o texto acima, se não lhe ocorreu, como aconteceu conosco, de identificar, na descrição feita pelo Papa Francisco a respeito do comportamento habitual de muita gente na vida mundana, certos personagens com os quais esbarramos frequentemente em situações rotineiras da convivência comunitária?


  
Homenagem a uma
 jovem septuagenária

Cesar Vanucci

“Ubuntu é a tradução, em linguagem zulu,
das plagas sul-africanas, de humanismo!”
(Antônio Luiz da Costa, educador)


Esbanjando vitalidade, juventude de espírito claramente estampada no semblante, Diva Moreira comemorou 35 anos de vida pela segunda vez consecutiva. Foi uma festa de arromba, como se costuma dizer no saboroso linguajar das ruas. Rica em colorido humano, a comemoração desenrolou-se em dois tempos: parte numa sexta, outra num sábado. A denominação dada à celebração – Ubuntu – encaixou-se magistralmente na sequência de lances culturais e artísticos esplêndidos da programação levada a efeito nos salões do Conservatório Mineiro de Música.

Antes de relatar os detalhes daquilo que este escriba e mais de 500 outros participantes do evento presenciamos cabe explicar o que vem a ser Ubuntu. O vocábulo vincula-se à cultura afro. Exprime a relação ideal entre o individuo e a coletividade. Nelson Mandela inspirou-se nessa noção de vida ao promover a política de reconciliação nacional que dele fez uma figura legendária. O Ubuntu propõe que a humanidade de uma pessoa fique inextricavelmente ligada à humanidade de seu semelhante. É um exercício permanente de fraternidade que implica compaixão e abertura de espírito. Traduz compartilhamento, generosidade, desprendimento e disponibilidade para o outro. Trata-se, na essência, de um exercício contínuo do mais autêntico humanismo, algo de que este mundo de Deus anda bastante necessitado. E como!...


No Ubuntu do natalício da Diva porta-vozes de mais de uma dezena de movimentos sociais, abrangendo sem número de generosas utopias, fizeram questão de registrar a contribuição valiosa que essa mulher guerreira, culta, vanguardeira e desassombrada, imprimiu a trabalhos memoráveis de resgate da cidadania em múltiplas áreas de efervescência social. A espontaneidade das manifestações, o peso expressivo de representatividade comunitária nas falas de louvação à pessoa e obra festejadas, o nível requintado dos espetáculos artísticos (Mamour Ba e equipe compareceram com sua cantoria e ritmo eletrizantes) revelaram a força de uma liderança comunitária invejável. Não sei de muitas pessoas na área pública com capacidade para aglutinar à sua volta tanta gente e tanto entusiasmo igual à dessa valorosa septuagenária Diva Moreira.






Se eu fosse o presidente


Silviano Cançado Azevedo* e 
Silviano Azevedo**


O Brasil se encontra hoje em situação calamitosa ao abandonar a honra e a ética; o saneamento completo desta triste situação consumirá gerações. A educação primorosa é fundamental. Precisamos iniciar com o procedimento exemplar das autoridades dos três poderes. A história nos ensina que este comportamento traz benefícios rápidos e eficazes. O ponto de partida seria agir com honra e ética. Prosseguindo, reduzir o desemprego seria nossa prioridade imediata.


Se eu fosse o presidente, o que faria mais?

Lançaria uma campanha de integração e boa vontade “um povo, uma nação, um só destino”, com o objetivo de estabelecer a visão de que o Brasil precisa ser um. Não pode existir o Brasil dos pobres e o Brasil dos ricos; o Brasil dos negros e o Brasil dos brancos; o Brasil do Norte e o Brasil do Sul. O sucesso exige um só caminho: o da união.

Criaria um movimento para a integridade do governo: transparência e competência.

Começaria com grande simplificação da máquina governamental. Dezoito ministérios são suficientes. Dentre eles, o atual Ministério de Fiscalização, Transparência e Controle seria o Ministério do Governo Justo visando acompanhar e vigiar os vários segmentos governamentais para garantir que a competência e integridade permeassem todos os setores do governo. Este ministério teria acesso direto e contínuo ao presidente; jamais haveria a falácia de que “o presidente não sabia”. O líder tem que saber, porque ele é o responsável.

Conversa com o Brasil: A resistência a um governo com esse nível de abertura e integridade seria vigorosa e intensa por aqueles acostumados a tirar vantagens da máquina pública. Para manter a população integrada no esforço de restauração seria necessário informá-la das decisões tomadas. O povo precisa ouvir o presidente e as razões de interesse nacional que nortearam suas decisões. As críticas e sugestões seriam consideradas. Como JK, “não tenho compromisso com o erro”.

Portas abertas: Propostas sérias, recebidas de todas as origens seriam bem-vindas e aproveitadas. Através de postos de acesso locais, docentes preparados e equipes das universidades federais estariam à disposição para dar assistência, fornecer informações aos cidadãos e receber sugestões.

Social Democracia: Sabemos que o socialismo fracassou e acreditamos que o capitalismo está acabando; vamos aproveitar as virtudes de cada um deles: do capitalismo, preservar a liberdade, a premiação da inteligência, criatividade e trabalho duro e do socialismo, procurar “alcançar a igualdade de oportunidades”.

Esquematizamos, em seguida, ações objetivas para um governo de curta duração, inconformado com os 11,4 milhões de brasileiros desempregados:

Estratégias estruturantes do governo de dois anos e meio - Redução drástica do desemprego via desenvolvimento: Reconquistaria a confiança de empresários, investidores e consumidores;  Incentivaria, com vigor, o desenvolvimento sustentável do agronegócio; Estimularia as diversas modalidades do turismo e dos serviços; Trocaria patrimônios públicos por obras de infraestrutura sustentável, usando o seguro nas construções, e negociaria suas operações;  Promoveria mais investimentos em construção civil utilizando as PPPs, seguro e sustentabilidade (portos, estradas de ferro e de rodagem, metrôs, energia com destaque para as renováveis, saneamento, moradias...) e negociaria suas respectivas operações; Promoveria a privatização ao máximo; A tônica seria o desenvolvimento sustentável.

Reduziria a taxa de inflação para 4,5% ao ano e estabeleceria a meta de crescimento econômico de 4% ao ano já em 2018. Reduziria a taxa Selic, paulatinamente; Reduziria a carga tributária, acoplada à arrecadação; Adotaria a indispensável comunicação Conversa com o Brasil; Melhoraria a educação, saúde e segurança, seletivamente; Buscaria alcançar as reformas necessárias, em fases distintas, priorizando a redefinição do Pacto Federativo; Elaboraria o Plano Nacional de Desenvolvimento de médio e longo prazos.

Como o objetivo primário de nosso governo seria a redução rápida e substancial do desemprego, buscando alcançar o pleno emprego, investiria forte nos setores produtivos que têm condições de responder com agilidade e demandam mão de obra intensiva, como o agronegócio, o turismo, os serviços, a construção civil...

Há setores do governo com boa atuação; vamos prestigiá-los e ampliar o número dos excelentes. A meritocracia seria uma das nossas diretrizes permanentes.

Em síntese, essas serão as bases de meu governo, desenvolvimentista e pragmático.
São urgentes as reformas da Constituição, cancelando vinculações e privilégios insuportáveis, as reformas Política, Tributária e da Previdência. Não esperaríamos que elas ocorressem integralmente para agir, já que, parafraseando Aureliano Chaves, ‘ao homem público não basta fazer o possível; ele precisa tornar possível o que é preciso ser feito’.

Começaríamos nosso trabalho no dia da posse.

*  Engenheiro
**Arquiteto e professor da "Dallas School of Fotography" 

    nos Estados Unidos


A SAGA LANDELL MOURA

Pacto sinistro

                                                                                              *Cesar Vanucci   “O caso Marielle abriu no...