sexta-feira, 11 de agosto de 2017

A cobiça não 
é de hoje

Cesar Vanucci

“O governo de Washington estudava a possibilidade de
transferir a escravaria dos Estados Unidos para a Amazônia.”
(Revelação histórica feita por Élio Gáspari)

Equivoca-se redondamente aquele que imagina serem coisas só recentemente afloradas essas manifestações ostensivas da cobiça estrangeira com relação a Amazônia. Já na época do Brasil império faziam-se frequentes as demonstrações da gula de outros países quanto a poderem abocanhar, algum dia, as imensuráveis riquezas do dadivoso território.

Élio Gáspari, jornalista com participação sempre arguta nos debates dos temas nacionais de relevância, andou esmiuçando, algum tempo atrás, uma “encrenca” eclodida no século 19, ainda no reinado de Pedro II, concernente ao momentoso tema amazônico.

Naqueles idos, ao invés dos argumentos de agora, quando a arrogância dos pretensos “donos do planeta” questiona o “protecionismo territorial” brasileiro para “justificar” a insana tese da internacionalização, o foco das críticas desfechadas contra o Brasil se centrava no direito universal à livre navegação. Os bons amigos estadunidenses – sempre eles! – lideravam forte pressão internacional no sentido de que fosse franqueada a livre navegação pelo mar interno amazônico das embarcações estrangeiras, inclusive militares. O governo imperial resistiu enquanto pôde às “ponderações” externas. Mas acabou, de algum modo, cedendo.

Por volta de 1850, os Estados Unidos pediram autorização ao Brasil para que um navio comandado por oficial de sua Força Naval pudesse singrar as águas do Amazonas. O objetivo alegado: coleta, por parte de grupos especialistas, de informações de interesse científico, sobretudo no campo cartográfico. Após alguma relutância, escorada em pareceres técnicos desfavoráveis da Secretaria de Negócios Estrangeiros do Império, a permissão veio a ser concedida pelo próprio Imperador.

Tempos depois, viagem concluída, o comandante do navio com bandeira estadunidense, William Herndon, foi recebido em audiência por Pedro II. Conversa vai, conversa vem, acabou escancarando, para estupefação do governante brasileiro, o verdadeiro propósito dos dirigentes de seu país com a tal “expedição científica”. Élio Gáspari com a palavra: “O governo de Washington estudava a possibilidade de transferir a escravaria do Sul dos Estados Unidos para a Amazônia. Ia além: admitia a possibilidade de instalar no nosso Vale o próprio empreendimento escravocrata americano. (...) Herndon falava em trabalho compulsório para povoar o protetorado da Amazônia norte-americana.”

As elucidativas informações do jornalista, baseadas no livro “A liberdade de navegação do Amazonas”, de Fernando Saboia de Medeiros, publicado em 1938, são acrescidas de outro dado bastante revelador da histórica ambição estrangeira concernente àquela parte do território brasileiro. O que o governo dos Estados Unidos pretendia, na época de Pedro II, era mesmo, na verdade, mutilar a soberania brasileira. Ocupar a região. Em 1867, o Império abriu a navegação do Amazonas. Os Estados Unidos já haviam rompido, dois anos antes, por força da guerra civil, com o regime da escravatura.

Revelações como estas e outras mais que ocupam espaço no noticiário trazem, mais que meros indícios, perturbadoras provas de que, de há muito, nos sonhos delirantes de arrogantes dirigentes estrangeiros, inimigos declarados do Brasil, a Amazônia, pelas incomparáveis riquezas do solo e subsolo, haverá de se tornar, em algum momento, protetorado de um país ou de um conjunto de países com vocação colonialista.

Afigura-se, por conseguinte, mais do que oportuno o enfático e incisivo recado que o governo brasileiro, dando voz à própria consciência cívica nacional, mandou em 2004, numa fala do então Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, aos dirigentes de outros países, aos pretensos ambientalistas que defendem, com suprema desfaçatez, a gestão compartilhada da maior floresta tropical do mundo. “Essa gente – foi dito naquela ocasião - precisa entender que a Amazônia brasileira tem dono. O dono é o povo brasileiro. São os índios, os seringueiros, os pescadores. E nós, que somos brasileiros e não nos assustamos com campanhas orquestradas, temos consciência de que é preciso diminuir o desmatamento, as queimadas, mas temos também consciência de que é preciso desenvolver a Amazônia.”

Não há, certamente, quem em sã consciência se recuse a assinar embaixo, mesmo entre aqueles que militem em campo político oposto ao antigo chefe do governo.
  

Convocaram até o Capitão Marvel


Cesar Vanucci

“Acham que nós exageramos, que é um nacionalismo epidérmico. Mas para quem está, por dever de ofício, ligado a isso, chegamos à conclusão de que não estamos vendo fantasmas” (General Luiz Gonzaga Lessa, ex-comandante Militar da Amazônia)

É importante atentar pra isso. Colocaram na mira do Capitão Marvel outros inimigos. Nos gibis de antigamente, ele usava dos punhos justiceiros para combater desalmados adeptos da suástica e de outros símbolos sinistros, responsáveis por todas aquelas truculências arrepiantes narradas nas crônicas da segunda grande guerra.

O Capitão fazia a cabeça da criançada, que saboreava, à exaustão, suas incríveis façanhas como destemido arauto do bem e desassombrado protetor dos fracos e oprimidos. Os tempos agora são outros. Outras aventuras, outros vilões na carreira do super herói. Com intuitos subliminares, que não passam batidos na percepção dos viventes mais lúcidos, os produtores dos seriados dos gibis estão entregando agora ao consumo da garotada nos Estados Unidos e noutros países uma nova horda de malfeitores. Esses malfeitores “estão a fim” de acabar com a vida no planeta Terra. “Devastam” tudo. “Destroem” com ferocidade os santuários ecológicos. São mostrados como integrantes de “falanges demoníacas”. “Espalham” tanta maldade que o jeito que tem é mandar chamar o Capitão Marvel pra colocar ordem na casa. A “casa” é a Amazônia, palco de lutas titânicas entre as “forças do bem e do mal”. É ali que “atuam” os atuais “inimigos do gênero humano.” Eles vêm retratados nos desenhos como uma mistura de bandoleiros sanguinários, terroristas desapiedados e empedernidos traficantes de drogas. Nas “inocentes” historietas em quadrinhos que circulam no estrangeiro são conhecidos por brasileiros...

Essa insidiosa armação tem sido acrescida de outros dados não menos preocupantes. Videogames espalhados pelo exterior oferecem aos aficionados um enredo parecido. Os “heróis” podem até ser outros. Mas os “vilões” são os mesmos. Isto é, nós.

Estão assim estampados, mais uma vez, para quem tem olhos pra enxergar e ouvidos pra escutar, como no aconselhamento evangélico, os perturbadores sinais da conspiração estrangeira contra o Brasil. Essa conspiração alimenta o nefando objetivo de arrancar, no papo diplomático ou, quem sabe, na marra, concessões sobre a Amazônia. Aliás, o ex-primeiro ministro britânico John Major já propôs, despudoradamente, a “intervenção militar” na região, com “fins humanitários”. A desabusada manifestação não é fruto de piração isolada. Está em sintonia com críticas impregnadas de hipocrisia de outros gringos insolentes, de nacionalidades variadas.

As advertências constantes sobre o que vem acontecendo, partidas de vozes qualificadas e respeitadas, sobretudo de oficiais graduados das nossas forças militares, recomendam uma mobilização vigorosa da opinião pública brasileira. O que está em jogo mexe fundo com o brio cívico da nacionalidade. Os inimigos estão muito bem articulados, a goela escancarada, navegando a pleno vapor na alucinatória impressão de poder surpreender, num determinado tempo, a sociedade brasileira desguarnecida, fragilizada e despreparada. O ex-comandante militar da Amazônia, general Luiz Gonzaga Lessa, em reiterados e memoráveis pronunciamentos, já deixou claro, que as ameaças vão se avolumando e que é preciso impedir uma aventura na Amazônia, criando-se para isso uma estratégia de resistência. Ele falou dos vazios demográficos, das fronteiras por proteger, da liberdade de movimentos excessiva que se concede às mais de 700 ONGs, boa parte estrangeiras, que agem desembaraçadamente na região, do excesso de terras reservadas aos povos indígenas e da pirataria científica. Chegou a denunciar algo inimaginável: “Temos dados que mostram que parte do sangue dos nossos homens amazônicos está sendo levado para outros países”.

O brilhante jornalista Carlos Chagas, recentemente falecido, fez-se ouvir, em vários momentos, com revelações também inquietantes. Tempos atrás, reportando-se aos riscos de estupro à soberania nacional, formulou a seguinte desconcertante pergunta: “Por que dois aviões americanos foram recentemente autorizados a aerofotografar a Amazônia, tendo sido retirado deles o banco ao lado do piloto, sob o pretexto de carregar mais instrumentos, mas, na verdade, para impedir que um oficial da Força Aérea Brasileira estivesse presente aos voos?” Este e muitos outros “por ques” estão a nos corroer por dentro.
  

Por falar em internacionalização...
 


Cesar Vanucci

“Internacionalizemos os arsenais nucleares.”
(Cristovam Buarque, senador)

Nossos comentários a propósito das insolentes propostas, expressas em diferentes sotaques, alusivas à internacionalização da Amazônia têm merecido especial atenção dos amigos leitores. Pessoas que, no mesmo tom de indignação deste escriba, se sentem alvejadas em seu sentimento cívico pela arrogância de não poucos próceres mundiais arvorados no papel de traçar regras de conduta para a humanidade inteira com base em suas espúrias conveniências hegemônicas e econômicas.

O Marcio Vicente Silveira é uma delas. A contribuição que deixa para uma maior conscientização a respeito da gravidade do assunto é valiosa. Reproduzo abaixo, na íntegra, sua manifestação.

“Prezado Jornalista Cesar Vanucci, Leitor assíduo de sua festejada coluna no "Diário do Comércio", do qual já tive a honra de ser correspondente em Sete Lagoas, acompanho seus artigos em defesa da Amazônia. Na oportunidade, remeto-lhe notícia de um pronunciamento do senador Cristovam Buarque sobre a questão. Certamente, já o conhece. Um grande abraço do admirador, Márcio Vicente Silveira.”

Segue a notícia mencionada: “Internacionalização da Amazônia.
Durante debate numa Universidade nos Estados Unidos, o senador Cristovam Buarque, ex-ministro e ex-governador, foi questionado sobre o que pensava da internacionalização da Amazônia (um tema que os norte-americanos gostam muito de abordar).
Esta foi a resposta de Buarque: Como brasileiro, eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia. Por mais que os nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso. Como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, posso imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o que tem importância para a humanidade.
Se a Amazônia, sob uma ética humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo. O petróleo é tão importante ao bem-estar da humanidade quanto a Amazônia. Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado. Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um país. Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação.
Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. Cada um deles é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar que esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural amazônico, seja utilizado ou manipulado pelo gosto de um proprietário ou de um país.
Recentemente, quando as Nações Unidas realizaram o Fórum do Milênio, alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos sofridos na fronteira dos Estados Unidos. Por isso, acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada, assim como Paris, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília... Certas cidades, com sua beleza específica ou sua história do mundo, deveriam pertencer a todos os povos.
Se os Estados Unidos querem internacionalizar a Amazônia pelo risco de deixá-la nas mãos dos brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos Estados Unidos. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil.
Como humanista, aceito debater a internacionalização da Amazônia e do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro lutarei para que a Amazônia seja exclusivamente nossa.”


Isso aí!

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