sábado, 22 de dezembro de 2018



Landell antecedeu Marconi

Cesar Vanucci

“O que primeiro penetrou (...) os grandes segredos da telúrica etérea foi um brasileiro”.
(Artigo publicado em “La Voz de España, em 1900)

Como enfatizado no comentário passado, a primeira demonstração pública inequívoca dos efeitos práticos e eficazes dos inventos de padre Landell Moura deu-se em São Paulo em 3 de junho de 1900. Evento altamente prestigiado, aglutinou autoridades, diplomatas estrangeiros, gente do povo, “sendo coroado de brilhante êxito”, conforme noticiou o “Jornal do Commércio”, periódico de grande aceitação perante o público leitor da época. Conta a “Wikipédia”, a propósito, que “a bibliografia brasileira em geral aceita este testemunho como fidedigno.” Mais: do ponto de vista dos biógrafos de Landell é bastante plausível a hipótese de que a experiência na transmissão de som sem fio tivesse acontecido bem antes disso. Admite-se, também, que o padre-inventor brasileiro haja antecedido ao próprio Guglielmo Marconi na conquista tecnológica referente à transmissão de sinais telegráficos.

O jornal “La Voz de España”, na edição de 10 de dezembro de 1900, estampa artigo de J. Rodrigo Potet que serve para reforçar o vanguardeirismo de Landell. Abaixo, trechos da manifestação. “Um jornal da capital federal atribuiu a invenção desse aparelho, que tem a propriedade de transmitir a voz humana a uma distância de 8, 10 ou 12 quilômetros sem necessidade de fios metálicos, ao engenheiro inglês Brighton. O diário a que me refiro está mal informado. Nem a invenção do sistema de transmitir a palavra a distâncias é recente, nem foi o inglês o primeiro sábio a resolver satisfatoriamente esse árduo problema, que envolveu os mais intrincados princípios físico-químicos que podem oferecer-se à ciência humana. O que primeiro penetrou e descobriu os grandes segredos da telúrica etérea com glória e proveito, faz pouco mais ou menos um ano, foi um brasileiro, foi o nobre sábio padre Roberto Landell de Moura. Porque acompanhei passo a passo os estudos de seus inventos sobre telegrafia e telefonia com e sem fios; porque fui testemunha presencial de varias experiências, todas prodigiosas; e porque tive a honra de me ocupar do sábio e de suas eminentes obras em dois artigos publicados em “El Diário Español”, de São Paulo, artigos que mereceram a honra de serem reproduzidos no Rio de Janeiro, no “Jornal do Commércio”; por tudo isto, julgo-me obrigado a sair agora em defesa do direito de prioridade que assiste ao benemérito brasileiro padre Roberto Landell de Moura, no que tange à transmissão da palavra falada sem necessidade de fios. (...) O mérito cresce de ponto, em se considerando que os inventores europeus e americanos dispõem de operários mecânicos inteligentíssimos e de fábricas e laboratórios onde escolher as peças que a feitura de seus mecanismos requer. O padre Landell tem que conceber ele mesmo e executar os aparelhos, sendo a um só tempo o sábio que inventa, o engenheiro que calcula e o operário que forja e ajusta todas as peças de complicadíssimos mecanismos. (...) Mas acontece que o humilde sacerdote se fecha em sua modéstia habitual em vez de dormir sobre os louros. Os poucos amigos e admiradores que tem ao seu lado são capazes de compreender o sábio e avaliar o valor de seus inventos.”

Da documentação ampla coletada pelos estudiosos da extraordinária obra de Landell, personagem posicionado de forma realçante na galeria dos inventores mais criativos da história, consta, ainda, que em 9 de março de 1901, o brasileiro obteve a primeira patente para um “aparelho destinado à transmissão fonética à distância, com fio ou sem fio, através do espaço, da terra e do elemento aquoso”. A esta altura dos acontecimentos, os superiores hierárquicos do padre-inventor, alterando condutas anteriores, avessas e até mesmo hostis ao magnifico esforço de Landell, com o talento que Deus lhe deu, em contribuir para a expansão da consciência e do conhecimento tecnológico, concederam-lhe permissão para se aprofundar nas experiências em que já se achava engajado. Isso favoreceu fizesse uma excursão científica por países europeus e Estados Unidos. Em Nova Iorque, onde permaneceu cerca de quatro anos, Landell concebeu três aparelhos, requerendo patentes. O jornal “New York Herald” ocupou-se, em 1902, de suas admiráveis façanhas técnicas. Abriu-lhe espaço para entrevista com foto, ressaltando na reportagem o seguinte: “Por entre os cientistas, o brasileiro padre Landell de Moura é muito pouco conhecido. Poucos deles têm dado atenção aos seus títulos para ser o pioneiro nesse ramo de investigações elétricas. Mas antes de Brighton e Ruhmer, o padre Landell, após anos de experimentação conseguiu obter uma patente brasileira para sua invenção, que ele chamou de “Gouradphone”.

Nos Estados Unidos, o brasileiro conseguiu, em 1904, registrar as patentes requeridas. A primeira, alusiva a um “transmissor de ondas”. As outras, concernentes a um “telefone sem fio” e a um “telégrafo sem fio”. Data da mesma ocasião o anúncio de seu projeto para transmissão de imagens à distância. Tal projeto confere-lhe, no entendimento dos biógrafos, a condição de pioneiro em matéria de televisão, teletipo e controle remoto.

A prodigiosa história do Padre Roberto Landell Moura reclama, obviamente, novas considerações.




PAINEL DE IDEIAS


                                                                                                 O que dizem outros articulistas


 Um gênero de loucos.
Maria Inês Chaves de Andrade*

Somos loucos de todo gênero: heterossexuais, lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, queers, intersexuais, assexuais e pansexuais. A sigla mais hodierna para designar o nosso plúrimo é LGBTQIA+ dando a assomar-se quem mais, seja como for e vindo a dar-se consigo, não se reconheça sob nenhuma chancela. Mas, há um gênero de loucos que assombra sem gênero. Sua degenerescência está na medida da integridade alheia, a que julga, condena e executa acaso o afronte pessoalmente, já que sabe como tudo deve ser.  O degenerado não reconhece a beleza, nem as nuances da sedução, estas que suscitam os amantes certos de cada um. A gênerosidade da carne sob roupa e trejeito e caras e bocas de tantos nada lhe diz, senão o transtorna, tanto maior tenha sido o armário dentro da caixa que se abriu enquanto ele sonhava com a tampa. A igualdade o incomoda porque aquela gente nada tem de similitude consigo e da diferença que ora se proclama são mesmo resto. O degenerado se excita com a pasteurização, mas tem trauma de iogurte em prateleira de queijo prato. Sem consistência alguma insiste no desgosto, este paladar apurado na angústia alheia. E de tal ordem propõe a desordem, que entende o ordenamento jurídico como óbice à sua postura de radical livre, este que pleiteia a assunção de um arbítrio absoluto, para oxidar tudo o que toma por anômalo já que é normal. Este gênero de louco ofende os loucos de todo gênero. Ora, gravidez de biquíni já foi gravíssima; liberdade para negros, nigérrima; minissaia, longamente indecente; direito ao trabalho e voto feminino, o fim da sociedade; colégio misto, decomposição moral; adultério, crime; divórcio, impensável. Mas, o degenerado não pensa mesmo. Ele prefere a ignorância porque sabe que ela mata e este é o propósito ideal. A medida do mundo é sua desmedida e nunca tem cabimento o que ele diz, embora sempre dê a saber de seu discurso inflamado. Quanta pústula há sob a incandescência! A gritaria dele dá-lhe a ouvir apenas a própria voz, já que a voz do povo, expressa na Constituição da República, não dá azo à outra ausculta senão que nosso objetivo fundamental é “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”. Este degenerado tem uma sensibilidade específica, adstrita às opções de gênero, mas nada do que há a merecer sua sede, em sede mesmo de sexualidade, o provoca. O macho de ocasião, aquele que se inscreve sempre a macerar o mais frágil, não o altera. Nem liga se há feminicídio, estupro, pedofilia... O macho de ocasião, em certas ocasiões, é mais macho. Nos coletivos, importuna e coletivamente, violenta. Mas, a submissão de tantos se explica se o propósito é submeter. Nem sabe o degenerado que macho é o homem que contém a si mesmo, mais que aparentemente macho. Sua essência humana degenera-se e paulatinamente rescende à putrefação de sua espiritualidade, por mais que encontre amparo na “igreja”, porque a Carta Magna resta promulgada sob a proteção de Deus e nesta missiva está nossa missão.

Vice-Presidente da ONG “O Proação”

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

                                            (Esta ilustração foi colhida no Google)

A saga Landell Moura


Cesar Vanucci

“O que Landell descobriu (...) é o que na quase totalidade se sabe na atualidade.”
(Vânia Maria Abatte, do “Nucleo de Pesquisas Landell Moura)                                                                                                                                                   

Damos continuidade agora à narrativa sobre a vida e obra de Roberto Landell de Moura, genial inventor brasileiro, primeiro cientista a fotografar comprovadamente a aura humana utilizando aparelho que concebeu, avançadíssimo para sua época. Detentor de vasto conhecimento a respeito de gama considerável de temas científicos, o padre gaúcho entranhou-se com a homeopatia, psicologia e os chamados fenômenos transcendentes, manifestações mediúnicas inclusas, abordando-os pelo prisma científico.

Visando propagar a técnica terapêutica referida, contribuiu decisivamente para a implantação de instituições superiores de ensino, uma no Rio de Janeiro e outra em Porto Alegre, ligadas à corrente da medicina homeopática. Na inauguração da escola gaúcha, impressionando vivamente as pessoas presentes, discorreu sobre as diferentes modalidades de assistência à saúde colocadas ao dispor do ser humano. Explicou, didática e eruditamente, com pleno domínio do tema, amparado nos conceitos hipocráticos, as características essenciais dos tratamentos médicos proporcionados pela alopatia e pela homeopatia. A imprensa divulgou amplamente o fato.

Landell denominou de “perianto” ao que acabou ficando conhecido como “aura”, ao comunicar a existência desse campo energético sutil que circunda permanentemente os seres vivos. Seja anotado, outra vez, que muitos anos transcorreram, após suas precursoras pesquisas, até que o cientista russo Semyon Davidovich Kirlian pudesse anunciar haver detectado, em laboratório, o mesmo fluido energético, batizando-o de “efeito Kirlian”. Nessas experiências vanguardeiras, produzidas com aparelho denominado “Spiricon”, Landell incorporou aos registros da ciência a descrição da aura a seguir reproduzida. “Todo o corpo humano está como que envolvido de um elemento de forma vaporosa, mais ou menos densa, segundo a natureza ou o estado do individuo ou ambiente em que ele se ache. Esse elemento, quando adquire uma tensão capaz de vencer obstáculos que se opõem à sua expansão, escoa do corpo humano sob a forma de descargas disruptivas ou silenciosas, tal qual sucede com a eletricidade. E os fenômenos que nessas ocasiões se dão têm muita analogia com os elétricos estáticos e dinâmicos, com relação aos outros corpos semelhantes. Pelo que cheguei à conclusão de que se trata de um fenômeno que constitui uma variedade dos fenômenos produzidos pela eletricidade ou pela causa da eletricidade, do calor, da luz etc.”

Os cadernos de anotações do padre falam dessas experiências específicas. Referem-se às fotografias da aura então obtidas. As imagens têm por foco os dedos das mãos do próprio Landell e o corpo de um animal de pequeno porte. Professora do “Núcleo de Pesquisas e Estudos Landell de Moura”, Vânia Maria Abatte assinala, conforme consta da Wikipédia, a seguinte informação: “O que Landell descobriu com relação ao “perianto”, ou então energia sutil, é o que quase na totalidade se sabe na atualidade sobre o assunto”. Ressalte-se, novamente, que as revelações do cientista e sacerdote brasileiro antecedem em praticamente um século - ora, veja, pois! - a recente “descoberta” da existência da aura. Anunciado agora em novembro, por conceituados pesquisadores da Universidade de Stanford, Estados Unidos, o estudo a propósito da momentosa questão alcançou ampla e compreensível repercussão nos círculos científicos internacionais.

Chegando a este ponto de nossa narrativa, não resistimos à tentação de entregar à reflexão do leitor uma observação danada de instigante, suscitada pelo pioneirismo (não oficialmente reconhecido) de Landell. Não são incomuns, no palco da história, enredos que possam ser descritos da forma estampada na sequência. Escalando as íngremes encostas montanhosas do conhecimento, ao cabo de extenuante e meritório esforço, cientistas renomados atingem, exultantes, uma clareira que lhes permite dar por finda a busca relevante em que se acham empenhados. Colocando atenção mais aguda, entretanto, nas coisas enxergadas ao derredor, acabam se dando conta, talvez um tanto desconcertados, com claros vestígios da passagem, bem antes, pelas mesmíssimas paragens, de adeptos da sabedoria transcendente, de inspiração quase sempre mística.

A saga Landell Moura abarca, na real extensão dos fatos históricos levantados em investigações promovidas por órgãos consagrados a resgatarem a memória do padre-inventor , um punhado de expressivas contribuições do notável personagem à causa da expansão da consciência humana e do conhecimento científico e tecnológico. Renderá, por conseguinte, naturalmente, mais relatos



Uma magnífica publicação

Os jornalistas Ricardo Camargos e Virgínia Castro reuniram meia centena de especialistas na arte culinária e jornalistas que já assinaram ou assinam trabalhos referentes a essa temática para a elaboração de uma magnífica publicação. Trata-se do livro-documentário "O sabor das letras", uma sugestiva sequência de receitas e de casos,  editado pelas entidades do Sistema Fecomércio. O ato de lançamento do livro, altamente prestigiado, aconteceu no Senac no último dia 7 de dezembro. Duas das crônicas divulgadas são de autoria deste escriba. 
As fotos da cerimônia abaixo reproduzidas foram enviadas por Virgínia Castro. 


sexta-feira, 7 de dezembro de 2018


Padre Landell, brasileiro, 
primeiro cientista a fotografar a aura
 

Um brasileiro contemporâneo do futuro

Cesar Vanucci
“Roberto Landell de Moura, padre, foi um inventor genial.”
(Antônio Luiz da Costa, professor)


A revelação, feita agora em novembro, rendeu vistosas manchetes mundo afora. Ganhou compreensível retumbância nas esferas científicas. Pesquisadores da Universidade de Stanford, Estados Unidos, anunciaram com pompa, ufanando-se da proeza, haver comprovado a existência da “aura humana”. Constataram que um fluido energético invisível ao olhar da quase totalidade das pessoas recobre permanentemente o corpo físico de todos os seres vivos. Noutras palavras, reconheceram que a “aura” não é tosca crendice, mera superstição. Até que enfim!

A “descoberta” foi rotulada de “expossoma humano”. Afiança-se na descrição dessa camada de energia que se trata de uma espécie de “nuvenzita” composta de micro-organismos e outras partículas suspensas no ar, entre elas resíduos de gases químicos expelidos em diferentes atividades. A pesquisa sustenta ainda que todos nós achamo-nos constantemente expostos ao “expossoma” em todo e qualquer ambiente. Os autores do trabalho expressam, como de costume, “ceticismo científico” acerca da versão referente à aura propagada em narrativas esotéricas. Resolvem abrir, ao redor do alardeado feito, uma controvérsia que promete dar o que falar. Segundo eles, a “aura humana” captada nos experimentos de laboratório nada tem a ver com energias sutis, percebidas pela ótica mística e identificadas, não é de agora, nos estudos sobre os chamados fenômenos transcendentes. Fenômenos, diga-se de passagem, que enxameiam este nosso velho mundo repleto de coisas assombrosas e de decifração complicada.

Não fica nada fácil para um simples leigo – caso deste desajeitado escriba, propagador de quiméricas interpretações das charadas intrigantes antepostas à jornada humana - meter o bedelho em tema de tamanha complexidade. Mas, seja como for, este “repórter enxerido“ ousa afirmar que a revelação dos conceituados pesquisadores estadunidenses admitindo a existência da aura está chegando com atraso de mais de um século. É só atentar para o que, no final do século XIX e nas duas primeiras décadas do século passado, um brasileiro notável, arrostando incompreensões e preconceitos de todo quilate, andou participando aos seus contemporâneos. Ele não apenas descreveu, como fotografou a aura em aparelho que inventou.

A informação que ora passo ao distinto leitorado remete à fascinante história de Roberto Landell de Moura. Cidadão gaúcho de Porto Alegre, nascido em 21 de janeiro de 1861, falecido em 30 de junho de 1928. Falo de um sacerdote católico de mente aberta e inclinações místicas, cientista e inventor, personagem de avantajada formação cultural e científica. Um autêntico contemporâneo do futuro. Da leitura de numerosos textos alusivos à sua vida e obra extraio empolgante narrativa.

A primeira notícia a ser dada é de que, embora devotado à vida religiosa, com passagens sempre edificantes pela administração de paróquias no Rio Grande do Sul e São Paulo, Landell focava a atenção paralelamente em pesquisas científicas de relevância no processo da evolução civilizatória. Foi apontado, por autoridades na área dos saberes, como alguém de ideias consideravelmente avançadas para seu tempo.

Com conceitos inovadores da ciência e envolvimento em assuntos tabus do ponto de vista da ortodoxia religiosa  - como contatos com o além, paranormalidade e crença na existência de outros mundos povoados de inteligência – provocou reações de desagrado sem conta por parte de seus superiores. Foi advertido em várias ocasiões para que moderasse o discurso e se ativesse aos cânones doutrinários. De sua biografia consta episódio emblemático. Em meados de 1890, Landell exibiu um de seus numerosos inventos a um prelado paulista. Um aparelho que poderia ser definido como “telefone sem fio”, algo inimaginável naquela época. Perturbado com as “vozes que vinham de nenhum lugar”, o superior eclesiástico qualificou o aparelho “como obra do demônio”, proibindo o padre inventor de prosseguir com os “heréticos” experimentos. Pesquisas a respeito do campo energético sutil que circunda seres vivos levaram Landell a conceber um outro aparelho extraordinário. Batizou-o com o nome de “Spiricon”. Foi chamado às falas pela ousadia, acusado igualmente de prática profana. Anos depois de sua morte, o russo Semyon Davidovich Kirlian, criou o instrumento que produz o chamado “efeito kirlian”, praticamente retomando os estudos do padre brasileiro. A descoberta de Kirlian valeu-lhe reconhecimento mundial. O pioneirismo do padre Landell Moura não foi oficialmente atestado, em escala mundial, devido ao obscurantismo cultural que alvejou sua atuação.

Este relato sobre a vida e obra do genial compatriota vai ter sequência. O leitor ficará a par nas próximas anotações, entre outras extraordinárias revelações, de texto em que ele descreve a “aura humana”, cem anos antes dos cientistas de Stanford.

quinta-feira, 29 de novembro de 2018



Um certo Capitão Guimarães Rosa

Cesar Vanucci

“É um dever cívico e patriótico exaltar os nomes que
edificaram nossa nacionalidade e João Guimarães Rosa foi um deles.”
(Coronel Klinger Sobreira de Almeida,
presidente da Academia de Letras da PMMG)

Antes de tornar-se celebridade por força da genialidade literária, antes mesmo da cintilante trajetória percorrida na cena diplomática, com notável atuação em prol dos direitos humanos, sobretudo à época da odiosa perseguição nazista aos judeus, João Guimarães Rosa, já graduado em medicina, desempenhou proficientemente as funções de capitão da Polícia Militar de Minas. Sua extraordinária obra intelectual somada a essa honrosa condição inspirou seus companheiros de farda a colocarem seu nome como patrono da prestigiosa Academia de Letras que agrupa intelectuais do meio militar.

A instituição patrocinou, este ano, pela segunda vez, a outorga do “Troféu João Guimarães Rosa” a personalidades e organizações que se destacam no culto à memoria e obra do escritor.  Revestida da pompa que já nos habituamos a ver em eventos culturais e cívicos da conceituada corporação, a cerimônia reuniu representativo contingente de convidados. Aconteceu no dia 19 de novembro, data reservada no calendário cívico ao culto da bandeira nacional. Aos agraciados foram entregues pequenas estatuetas do patrono do troféu envergando farda típica do tempo em que serviu como capitão-médico na Força Pública.

Dez troféus foram atribuídos a três respeitáveis instituições e a sete cidadãos. Estas as instituições: Batalhão da Polícia Militar de Barbacena (antigo 9º Batalhão de Infantaria), unidade onde Guima atuou nos anos 30; Fundação Guimarães Rosa e Academia Cordisburguense de Letras Guimarães Rosa. Aqui a lista dos demais agraciados: Calina da Silveira Guimarães (homenagem de saudade), coronel Cláudio Roberto de Souza, comandante geral do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, jornalista Juliana Dametto Guimarães Rosa, professora Lélia Maria Parreira Duarte, jornalista Gustavo de Jesus Werneck, empresário Evandro Guimarães de Paula, e, ainda, este escriba amigo de vocês, atual presidente da Academia Municipalista de Letras MG, autor de um ensaio sobre “O lado místico de Guimarães Rosa”.

A programação cumprida na solenidade, levada a efeito em praça pública da Cidade Nova, BH, batizada com o nome do autor de “Grande Sertão: Veredas”, contou com o concurso da banda do Corpo de Bombeiros, de guarda de honra da Escola de Cadetes da PM, representação do 9º BMPM de Barbacena, que reverenciou de forma especial a memória do capitão médico diante de sua estátua. Em nome dos homenageados, o coronel Cláudio Roberto de Souza pronunciou discurso de rico conteúdo literário. Além do Hino Nacional e Hino a Bandeira foram executadas, pela banda do Corpo de Bombeiros, a canção da corporação e a canção da Polícia Militar.

Ano passado, no mesmo local, ao ensejo do cinquentenário do passamento à pátria espiritual do escritor, reconhecido como a maior figura literária brasileira de todos os tempos, realizou-se pela primeira vez a festa cívico-cultural de entrega do troféu. A estátua plantada na praça foi então inaugurada. A filha de Rosa, Vilma Guimarães Rosa, compareceu. A cerimônia do dia 19 comemorou o 51º aniversário do “encantamento” de Guima.

A Academia de Letras da PM, presidida por personagem de realçante presença na paisagem intelectual mineira, coronel Klinger Sobreira de Almeida, com o apoio do Clube dos Oficiais, comandado pelo ilustre coronel e deputado Edvaldo Piccinini Teixeira, organizou o ato comemorativo sublinhando que seu patrono, nascido em Cordisburgo em 1908, graduou-se como médico em 1930, indo clinicar em Itaguara. Em 1932 integrou como voluntário uma unidade da Força Pública, tendo sido comissionado no posto de capitão-médico. Foi efetivado dois anos depois, por concurso, no batalhão de Barbacena. Deixou a caserna para ingressar na diplomacia.

No governo JK ocupou o cargo de embaixador, já aí com o nome glorificado nos círculos literários. Da passagem pela PM, Guimarães guardou fortes lembranças. Em registro a respeito frisou que “a Força Pública se caracteriza, antes de tudo, pela homogeneidade e pela continuidade. Homogeneidade no cômputo de seus valores. Continuidade no manter as suas tradições de disciplina e bravura, contribuindo para isso o processo de formação de suas patentes, que galgam das primeiras graduações aos topes da oficialidade por um processo de rigorosíssima seleção de aptidões e capacidades.”

Ao complementar estas anotações, não resisto à tentação de reproduzir o que, em breves palavras, compartilhando das duradouras emoções dominantes na praça, comentei com o coronel Klinger. Entre tantas e poderosas razões do que se ufanar, a Polícia Militar ainda pode se orgulhar da inigualável proeza de haver abrigado nos seus quadros, em diferentes momentos de sua história, o maior herói brasileiro, Alferes Tiradentes, nosso governante de maior expressão administrativa e política, Juscelino, e o grande ícone de nossa literatura, Guimarães Rosa.



Imagens do evento


Numerosas autoridades civis e militares participaram do ato

O troféu é entregue pelos coronéis Klinger e Lagardes

Outro flagrante da entrega do troféu

Parte do público presente ao evento

 O homenageado ladeado por familiares e amigos

Outra cena da sessão solene pública

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Outras frases da coleção


Cesar Vanucci 

“As frases feitas são a companhia cooperativa do espírito.”
(Machado de Assis)


Conforme prometido, junto hoje, para apreciação dos leitores, mais algumas frases colecionadas, achados verbais que considero preciosos. A exemplo das que foram anteriormente lançadas nesta coluna, exprimem sentimentos, emoções, ideias, reflexões que têm muito a ver com a construção humana. Com as visões que temos sobre o significado da existência.

Pra começar, anotemos pensamentos relativos ao mais inevitável dos fenômenos que acompanham a nossa caminhada pela terra dos homens, a morte. De Fernando Pessoa: “A morte é a curva da estrada. Morrer é só não ser visto.” De Camões: “As pessoas não morrem, partem primeiro.” De Richard Bach: “Existe um jeito simples de saber se está cumprida a missão de alguém. Se está vivo, não está.” De Guimarães Rosa: “A gente morre para provar que viveu.” Woody Allen: “Não que esteja com medo de morrer. Apenas não queria estar lá quando isso acontecesse.”

Chamo sua atenção, agora, para uma definição irretocável de saudade, vinda logo abaixo. Supunha, até indoutrodia, que a frase, extraída de um poema, fosse da leva do grande Catulo da Paixão Cearense, primeiro violão da sinfônica brasileira de poetas. Mas ouvindo, com o enlevo costumeiro, o Rolando Boldrin declamar o poema, no apreciado programa “Senhor Brasil”, na Cultura, constatei estar incorrendo em lêdo engano. Por não haver conseguido anotar na hora o nome do verdadeiro autor, deixo aqui, um tanto constrangido, de mencioná-lo. Mas vamos logo à definição da saudade: “Sodade é como a grama tiririca, que a gente pode arrancá, virá de raiz pro ar, mas quá. Um fiapo escondido no torrão faz a peste vicejá.”

Está aqui uma outra bela definição, esta a respeito da confiança que deve imperar sempre no relacionamento humano. O autor é ninguém mais, nem menos do que Tiago de Mello: “O homem deve confiar no homem, como a palmeira confia no vento, o vento confia no ar e o ar confia no campo azul do céu.” Da santa Tereza de Calcutá, este conselho magistral acerca do amor para com o próximo: “Ame até doer!” A frase alinha-se com um texto lapidar, retirado do evangelho de João: “Quem não ama o próximo, que vê, como poderá amar a Deus, que não vê?” Nessa linha ainda. Do poeta, professor e desembargador Lauro Fontoura, de saudosa memória: “Galiléia, o luar põe alegorias brancas no cabelo do Mestre. A noite desce como uma bênção. Para os lados de Hebron, a distância se afuma num fundo bíblico de searas. Cristo apanha a seus pés uma criança leprosa. Ergue-a a altura da fronte e beija-lhe a boca. O pequeno, levantando as pálpebras ingênuas e pousando o olhar triste na doçura doirada dos olhos divinos, perguntou: - A tua religião, ó Rabi, cura as minhas feridas?”

As frases reunidas na sequência contemplam a importância, para o exercício da cidadania e para o cultivo do sentimento nacional, do idioma pátrio: “A pátria é o idioma”, acentua o fabuloso escritor Monteiro Lobato. Eça de Queiróz, outro luminar da literatura portuguesa, sobe o tom: “Um homem só deve falar, com impecável segurança e pureza, a língua da sua terra; todas as outras as deve falar mal, orgulhosamente mal, com aquele acento chato e falso que denuncia logo o estrangeiro.”

As definições que se seguem são sobre cultura. “Quando ouço alguém falar em cultura, puxo do meu revólver.” A frase é atribuída a Hermann Goring, integrante da sinistra cúpula nazista. O pensador francês Louis Pauwells, coautor de “O despertar dos mágicos”, bolou, em contraposição, essa outra frase: “Quando me falam em revólver, puxo logo a minha cultura.”

Acerca do direito humano à liberdade de opinião, Voltaire produziu uma frase primorosa que utilizava como lema num dos programas (“Vice-versa”) que criei em minha passagem pela direção da Rede Minas de Televisão: “Não concordo com uma só palavra do que dizeis, mas defenderei até a morte o vosso direito de dizê-lo.”

Por  falar em coleções

Cesar Vanucci

“Existe uma arte da citação.”
(Valery Lasband, anotado por Paulo Rónai em seu magnífico “Dicionário de Citações”)

Existe uma natural inclinação humana para colecionar coisas. E o intrigante (para muitos, fascinante) hábito da coleção é praticado de forma fervorosa pelos adeptos. O colecionador costuma cuidar com carinho singular, não perceptível em outros procedimentos de sua rotina de vida, dos objetos colecionados. Agarra-se, também, com entusiasmo às vezes frenético, às chances de poder ampliar, com constantes aquisições, o seu precioso acervo.A lista de materiais, peças, coisas colecionadas é extensa e profusa, oferecendo surpresas incontáveis. Obras de arte, correspondentes a momentos culturais diferentes, animais raros ou comuns, veículos antigos, gravatas, caixas de fósforo, miniaturas de garrafas de bebida e de carros de corrida, peças de vestuário: a inclinação humana para montar coleções deixa a imaginação correr solta, a voar com o desembaraço de um condor nas alturas andinas. Um tipo de coleção que andou em grande moda no passado é a de selos. O irreverente Pitigrilli dizia, a respeito: no fundo mesmo, o que os colecionadores se esmeram em reunir não passam mesmo de amostras internacionais de escarros.Este nosso papo introdutório é pra contar procês que eu também participo, não é de hoje, sem alardes, do nobre ofício de colecionador. Comecei a coleção adolescente. Não me desapartei dela, com o atravessar dos anos, apesar da coleta intermitente, não enquadrada em critérios rígidos de disciplina. Socorrendo-me de livros de citações, de anotações à mão, de registros datilografados ou digitados, de recortes de jornais e revistas, de muitas outras modalidades de impressos, acumulei razoável coletânea de frases. Adágios, ditos de efeito, axiomas, aforismos, máximas, sentenças, ditados, brocardos, versos, manifestações proferidas em tribunais ou entrevistas, expressões nascidas da saborosa linguagem das ruas. Dá até pra juntar mais um compêndio à coleção de títulos editados sobre o assunto.
O material reunido trata temas antigos ou atuais. Algumas citações conservam timbre de eternidade. Outras são de duração conceitual até efêmera. Utilizo-as invariavelmente no preâmbulo de meus despretensiosos escritos, como estão em condições de atestar os 25 leais e assíduos leitores que inadvertidamente me acompanham há anos.Valery Lasband falava, como lembra Paulo Rónai, da existência da “arte da citação”. Dizia que “Montaigne parecia possuí-la em grau supremo”. Tudo isso posto, achei de bom alvitre, como se costumava dizer em tempos de antanho, arrolar aqui algumas frases marcantes dessa coleção, embalando a expectativa de que delas possam emanar sabedoria e enlevo que aqueçam o espírito e o coração.De início, frases que contemplam aspectos transcendentes da aventura humana. De Teilhard de Chardin (filósofo, teólogo, antropólogo, paleontólogo, arqueólogo, uma das cabeças pensantes iluminadas do século 20): “Na escala cósmica, só o fantástico tem probabilidade de ser real.(...) Na escala cósmica, as coisas não são tão fantásticas quanto a gente imagina, mas muito mais fantásticas de que a gente jamais conseguirá imaginar.” De Jacques Bergier e Louis Pauwells (geniais autores de “O despertar dos mágicos”): “O espírito humano é que nem o pára-quedas. Só funciona quando aberto.” De William Shakespeare: “Há muitos mais mistérios entre o céu e a terra do que supõe a nossa vã filosofia.” Do excelente poeta Raul de Leoni (“Luz Mediterrânea”): “O sentido da vida e o seu arcano é a aspiração de ser divino, no prazer de ser humano.” Do poeta (indiano) Rudyard Kipling, no célebre poema “Se” (tradução de Guilherme de Almeida): “Se podes conservar a fé, quando à tua volta, atribuindo-te a culpa, os outros a perderam. Se confiando em ti mesmo, aceitas sem revolta que duvidem de ti os que não te entenderam (...) És um homem!”. De Aldous Huxley, um pensador com visão plantada no universo e no futuro: “Habitamos uma ilhota perdida, num oceano infinito de inexplicabilidades.” Do evangelho cristão: “As coisas que hão de ser, já foram.” Da sabedoria chinesa: “O peixe é o último a saber que vive dentro d’água.” Da sabedoria germânica: “A serenidade está presente nas coisas que fazemos juntos.”

Mais frases pela frente.

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Assim funciona a democracia

Cesar Vanucci

“Tudo nessa história de disco voador resvala o fantástico.”
“Uma corrida de revezamento.”
(Antônio Luiz da Costa, professor)


(Explicação didática de Barack Obama, sobre a disputa eleitoral numa democracia)

Extrair da democracia, para plena utilização, todo ímpeto criativo, todas as propostas construtivas que ela seja capaz de engendrar. Confiar na democracia assim como “a palmeira confia no vento e o vento confia no ar”, conforme a recomendação poética de Thiago de Mello, mesmo sabendo-a carregada de imperfeições por culpa de equivocadas posturas humanas. Expressar inabalável convicção de que a pior das democracias é preferível à melhor das ditaduras. Ter presente, a propósito, que a expressão “melhor das ditaduras” não passa de mero ardil de linguagem.

Todo regime despótico, não importando a lateralidade ideológica, se de esquerda ou de direita, revela-se inapto a assegurar aos cidadãos subjugados qualquer vantagem compensatória em relação à aterrorizante supressão da liberdade. Relembrar sempre, sobretudo quando diante de alguma frustração política, aquela irretocável definição sobre a democracia feita pelo estadista Winston Churchill na Câmara dos Comuns inglesa, em 11 de setembro de 1947. Aqui está ela: “Ninguém pretende que a democracia seja perfeita ou sem defeito. Tem-se dito que a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos.”

É preciso manter a atenção fixada nas engrenagens operacionais do sistema democrático. Absorver bem a ideia de que o voto significa voz. E que o vozerio majoritário outra coisa não exprime senão uma vontade a ser acatada sem tergiversações. Barack Obama, presidente do qual seus compatriotas sentem imensa saudade nesta fase de sucessivos desatinos praticados pelo sucessor, certa feita recorreu a sugestivo exemplo mode quê explicar didaticamente o mecanismo que rege o jogo democrático. Comparou as periódicas disputas eletivas a uma eletrizante corrida de revezamento. A cada etapa da competição o bastão é trocado de mãos. Os contendores dão o melhor de si, no percurso extenuante que se lhes toca cobrir, para levarem a cabo satisfatoriamente sua missão. Cuidam zelosamente, fieis a saudáveis regras, da respeitosa entrega do bastão aos disputantes seguintes. Ficam no direito, se assim desejarem, caso se ofereçam condições propícias, a participar das futuras corridas de revezamento.

A corrida eleitoral brasileira chegou ao seu epílogo. Foi pontuada, em não poucos instantes, por indesejável fragor belicoso, alimentado por exacerbadas paixões. Dos brasileiros de boa-vontade espera-se, agora, procurem com serenidade e inteligência, espírito desarmado, participar ativamente das etapas de construção do progresso e desenvolvimento que venham a ser programadas pelo interesse nacional e pela democracia. Com ideias propositivas, mesmo em situações que inspirem compreensível avaliação crítica, chutando pra fora da cancha desavenças de teor desedificante, cada cidadão é convocado a ocupar lugar no inadiável e ingente esforço de mobilização das forças vivas da nacionalidade em favor de políticas econômicas e administrativas capazes de assegurar crescente prosperidade para todos.

As siglas partidárias e as correntes de opinião são elos importantíssimos no encadeamento democrático. Acima delas, entretanto, importa muito colocar o sagrado interesse da coletividade. Coletividade essa que abriga infinitas diversidades de pensamento e métodos de ação. A liderança legitimamente obtida nas urnas pelos governantes recém-eleitos deles reclama grandeza cívica, sob a forma de gestos e palavras que apaziguem ânimos, eliminem desagradáveis idiossincrasias e traduzam sincera disposição em aceitar contribuições alheias de boas ideias na execução das politicas públicas a serem deflagradas objetivando a expansão do bem-estar comunitário. De outra parte, de quem se alinhe nas fileiras da oposição, portadores de uma missão relevante no esquema democrático republicano, é de se  aguardar, pela mesma forma, demonstrações de isenção e capacidade para não se furtarem à cooperação nos projetos e iniciativas dos governantes que consultem realmente as aspirações da sociedade.

É assim que as coisas funcionam na democracia. Nalgumas horas, uma clareira carece ser aberta na penosa caminhada do país em busca de seu destino, para que todos, independentemente das tendências e simpatias políticas, conscientes de que um poder mais alto de alevanta, se entreguem a uma generosa troca de experiências e produtivo reforço de ideias e atos que permitam imprimir ritmo mais veloz na busca dos objetivos sociais e civilizatórios.



Incidente ufológico em Brasília

Leitor que se confessa “fissurado” no chamado fenômeno ÓVNI cobra-me relato sobre um extraordinário episódio narrado em palestra que fiz no Congresso Brasileiro de Ufologia, ano passado, em Belo Horizonte. O “incidente” envolveu, logo nos começos de Brasília, dois homens públicos de projeção nacional. Ambos parlamentares. Ambos escritores. Ambos já falecidos.

Inicio a narrativa citando-lhes os nomes: Paulo Pinheiro Chagas e Plínio Salgado. Este último, presidente do PRP (Partido de Representação Popular), desfrutava de notoriedade como chefe da ação integralista, uma versão tupiniquim do movimento fascista italiano de Benito Mussolini. Sua obra mais apreciada como escritor focaliza a vida de Jesus Cristo. Pinheiro Chagas foi, provavelmente, o mais culto e talentoso tribuno parlamentar de sua época. De sua vasta produção literária faz parte o livro “Teófilo Otoni, o Ministro do Povo”, por muitos apontado como a melhor biografia já produzida de um personagem de nossa história. Estive ligado a Paulo, até os derradeiros momentos de sua peregrinação pela pátria terrena, por poderosos laços de amizade. Ele e senhora, a também saudosa Zembla, tia de minha esposa Addi, foram meus padrinhos de casamento. Foi dele, Paulo Pinheiro Chagas, que ouvi, por mais de uma vez, com requintados detalhes, o relato de uma incrível experiência ufológica.

Brasília vivia, em 1960, a efervescência de seus primeiros encantadores instantes de vida como centro das decisões políticas nacionais. O presidente da República era o inolvidável Juscelino Kubitschek de Oliveira. Paulo Pinheiro Chagas desempenhava as funções de líder do governo na Câmara dos Deputados. Num final de tarde, acompanhado do amigo deputado Crispim Jacques Bias Fortes, Pinheiro Chagas deixou a sede do Legislativo com o destino do Palácio do Planalto. O carro conduzia os parlamentares e o motorista. Eis que, de repente, a uma distância que possibilitou aos ocupantes do veículo em movimento visão bastante nítida da cena, surgiu um objeto aéreo fazendo desnorteantes evoluções. O artefato possuía o formato celebrizado na maioria dos avistamentos notificados nos anos 50: um pires com uma redoma. A imagem captada, como sempre ocorre em circunstâncias do gênero, deixou forte impacto nas testemunhas. Ali mesmo no carro, Paulo e companheiros tomaram uma deliberação: manter a ocorrência sob reserva, de modo a evitar repercussões de cunho político. A ferrenha oposição a JK não perdia chance para alvejar as decisões, atos e projetos governamentais. Provavelmente, partiria para uma tentativa de ridicularizar políticos tão próximos ao grande presidente, caso a história do contato de terceiro grau vazasse. As cautelas adotadas no sentido de se evitar a divulgação não impediram, todavia, que o fato merecesse pequeno registro, sem maiores detalhes, numa coluna de jornal brasiliense.

As coisas estavam colocadas nesse pé, quando Paulo Pinheiro Chagas recebeu uma ligação telefônica de Plínio Salgado. O líder da bancada integralista, vinculada a oposição, pediu-lhe uma conversa em caráter confidencial. Como o momento político se revelasse um tanto quanto conturbado, Paulo deu ciência a Juscelino do encontro proposto, na expectativa de que a conversa sigilosa com Plínio pudesse girar em torno de alguma questão política momentosa. Mas o papo, para espanto do líder do governo, tomou rumo totalmente diferente.

Plínio Salgado tivera ciência, pelo jornal, do caso do óvni. E não podia deixar de passar para seu companheiro de parlamento, como ele escritor, uma revelação espantosa. Contou, então, com visível emoção, os surpreendentes desdobramentos do incidente ufológico em causa. Naquela tarde, um “disco-voador” com configuração idêntica ao do avistamento de Pinheiro Chagas e Bias Fortes apareceu, inesperadamente, a curta distância do local onde Plínio Salgado se encontrava, no jardim da residência. O deputado sentiu-se imobilizado, depois de atingido por um feixe de luz desfechado do aparelho. Só algum tempo passado, com o objeto já fora do alcance visual, é que conseguiu recuperar os movimentos. O relato, como os investigadores do fenômeno óvni podem atestar, guarda semelhança com outras ocorrências ufológicas e favorece a dedução de que Plínio Salgado, naquele momento, talvez houvesse sido alvo de uma abdução.

Pra encerrar a conversa: em Belo Horizonte, no bairro da Serra, anos mais tarde, Paulo Pinheiro Chagas testemunhou um outro avistamento de óvni.

quinta-feira, 8 de novembro de 2018


Amulmig recepciona Raquel Vilela 


Cesar Vanucci

“A bússola que sempre norteou os caminhos de Rubem Alves chama-se inquietação amorosa.”
(Acadêmica Raquel Vilela, ao tomar posse na Amulmig)


O ingresso de alguém afeiçoado ao ofício das letras numa instituição com as características da Amulmig há que ser visto como um ato sacramental. Foi o que assinalei no pronunciamento feito por ocasião da assembleia festiva, altamente prestigiada, com a qual a entidade recepcionou Raquel Virginia Rocha Vilela em seus quadros.

Médica, educadora, pesquisadora científica, dirigente de um núcleo de pós-graduação médica que atua em Minas e São Paulo, a nova acadêmica, que escolheu o escritor Rubem Alves como patrono, ganhou notabilidade na cena literária como autora de livros em prosa e verso para crianças e adultos. “Seus livros carregam, além da magia da leitura, a magia da caridade”. Estas palavras foram pronunciadas pela acadêmica Maria Armanda Capelão Ferreira na saudação à empossada, ao explicar que a arrecadação com as vendas das publicações é sempre destinada a obras assistenciais, de modo geral hospitalares. Maria Armanda recorreu ainda à “Parábola do Semeador” ao focalizar o itinerário profissional, social e cultural de Raquel. “Raquel é essa terra onde as sementes se desenvolvem produzindo frutos cem por um”, registrou. Frutos de sabedoria colhidos nas atividades desenvolvidas no Instituto Superior de Medicina, que presta atendimento gratuito a pacientes nos setores de dermatologia, psiquiatria e endocrinologia. Frutos de bondade na acolhida proporcionada a crianças na oncologia pediátrica. Frutos de caridade, como professora, orientadora de teses da área de doenças infecciosas, como pesquisadora em universidades no Brasil e no exterior, nos campos da biologia molecular, microbiologia clínica ocular e lesões faciais.
A acadêmica Maria Inês Chaves de Andrade, que conduziu o cerimonial literário da sessão de posse, sublinhou, por sua vez,  que em Raquel prevalece “a tessitura entre a cientista, a médica e a escritora, entremeadas por uma espiritualidade inquestionável, em moldura de mulher linda.” Reportando-se à ação cultural da escritora, Maria Inês anotou ainda: “Alienação da essência humana procedida em Deus desaparece quando Raquel Vilela assume-se filha Dele e imagem e semelhança providencia a acolhida do Outro através de suas histórias na dimensão que pode. Brinca que foi princesa Izabel noutra vida, pois, crenças à parte, de fato que a moça tem é essa certeza imensa de que sempre laborou pela liberdade, a liberdade enquanto valor e de todas as formas, a liberdade pela qual luta esta princesa Raquel nesta vida, para libertar os que se encontram sob o jugo da doença e da angústia, na senzala do desespero”.

Em sua manifestação, a acadêmica empossada registrou que a escolha do patrono, mineiro natural de Boa Esperança, decorreu da circunstância de se identificar com seus escritos, “talvez porque nós dois nascemos em cidades abraçadas por belíssimas serras, eu, a Serra do Curral Del Rei, e ele, a Serra da Boa Esperança.” Reportando-se às atividades do patrono como pastor evangélico, ressaltou que “a influência religiosa em sua vida sempre foi muito forte” e que ele “muitas vezes sentiu-se tolhido pela doutrina adotada na igreja a qual pertencia.” Frisou: “Sempre foi muito criticado por seus pares, pois demonstrava nos sermões inconformismo mediante várias questões religiosas. Especialmente, no tocante à visão de Deus, pois a visão interpretativa apreciada (...) era de um Deus com postura punitiva e que exigia dos fiéis algumas barganhas para instituição de graça divina.” Citou também a punição que Rubem Alves recebeu de seus superiores, que o exoneraram da função de pastor, por conta de um sermão no qual “ele revelava a importância de nunca abandonarmos nosso lado criança”. Depois de aludir ao papel desempenhado pelo patrono na propagação da chamada Teologia da Libertação, e de sua ligação com Leonardo Boff e Frei Beto, afirmou que “a bússola que sempre norteou os caminhos de Rubem Alves chama-se inquietação amorosa”. “Em todos os seus textos é possível identificar amor pelo belo, intimidade com Deus, espírito livre e apaixonado pela educação, encantamento pelo novo, por tudo aquilo que leva o homem a ter uma atitude flexível e transformadora na formação de um ser moral.” No arremate de sua fala, Raquel Vilela pediu as bênçãos de Francisco de Assis, patrono da Amulmig, para orientar suas ações como acadêmica. “Fazendo uso da simplicidade de gestos, clareza de pensamento”, assumiu o compromisso de colaborar com a instituição ancorada na fé, acreditando “que através da literatura poderei contribuir para meu crescimento próprio e também para a construção de uma sociedade mais justa.”
A assembleia de posse na Amulmig representou, sem dúvida, um momento de realce na crônica cultural mineira.








POSSE DE NOVA ACADÊMICA NA AMULMIG

Os pronunciamentos que se seguem foram feitos na sessão solene de recepção realizada na Amulmig, aludida no artigo de abertura do"Blog".

Discurso de saudação da Acadêmica Maria Armanda Capelão


Parábola do Semeador (Mc 4,3-8). Eis que o semeador saiu para semear. Ora, enquanto semeava, parte caiu a beira do caminho; vieram os pássaros e comeram tudo. Parte caiu também num lugar pedregoso, onde não havia muita terra; logo germinou porque não havia terra profunda; quando o sol se levantou, foi queimada e, por lhe faltarem raízes, secou. Parte também caiu entre os espinhos; os espinhos cresceram e a sufocaram, e ela não deu fruto. Outros grãos caíram em terra boa e, crescendo e desenvolvendo-se, produziram fruto, e renderam trinta por um, sessenta por um, cem... Raquel é essa terra onde as sementes se desenvolvem produzindo frutos cem por um...
Frutos de Sabedoria no planejamento, construção e funcionamento do Instituto Superior de Medicina (ISMD) em 2006, onde Raquel além de dona proprietária é professora encantando não só com sua competência como também com a sabedoria na condução e orientação pedagógica e como diretora da unidade de São Paulo. O ISMD é um núcleo de Pós- graduação da Faculdade de Ciências Medicas de Minas Gerais. Raquel é professora da Pós- graduação desta faculdade. O ISMD é um Instituto que atende gratuitamente pacientes (demanda reprimida do sistema único de saúde), nas áreas de Dermatologia, Psiquiatria e endocrinologia. Hoje conta com duas unidades, uma em Belo Horizonte e outra em São Paulo capital.
Frutos de Bondade no acolher tantas e tantas crianças sedentas de abraços, caricias e principalmente da ternura de um colinho como acontece no Hospital da Baleia, na oncologia pediátrica e na radioterapia. Graduada em Medicina pela Universidade  Vale do rio verde de Três Corações, e com um coração repleto de amor, Raquel  cuida do corpo e da alma de  pequeninos grandes  e grandes pequeninos que sempre a cercam com sede de ternura e alivio.
Frutos de Caridade na Universidade Federal de Minas Gerais onde é Professora e Orientadora de teses na área de doenças infecciosas na UFMG, como pesquisadora, desenvolve projetos em associação com a Universidade do Estado de Michigan,  e com o instituto Lauro de Souza Lima, na cidade de Bauru, São Paulo.
Raquel tem Doutorado e Mestrado em Ciências Físicas e Biológicas pela Universidade Federal de Minas Gerais onde também se graduou em Farmácia e Bioquímica.
Frutos de paciente disponibilidade na Universidade do Estado de Michigan, dos  Estados Unidos onde, sem esse Divino fruto, não teria condições de desenvolver, com tanta eficiência, a função de professora e pesquisadora, nas áreas de Biologia Molecular.
 Raquel é pós-doutora em Ciências Biológicas e Ciências da Saúde pela Universidade do Estado de Michigan e um dos seus focos de pesquisa são as microbactérias resistentes a novos antibióticos.
Paciente disponibilidade é realmente o Fruto Mestre tão necessário nessa e noutras áreas de pesquisa a que Raquel se dedica como  micologia medica, microbiologia clinica ocular e hanseníase, e mais recentemente criou uma linha de pesquisa, junto com a Universidade do Estado de São Paulo (USP), em próteses faciais 3D, para pacientes com lesões faciais.
E esse terreno profissional maravilhosamente abençoado chamado Raquel Vilela continua produzindo frutos que palavras não dizem, palavras não contam, sentem-se... Vivem-se...
Na literatura caminha a passos largos como Escritora para crianças e adultos em prosa e poesia. Seus livros carregam além da magia na leitura a magica da caridade pois toda a arrecadação, com sua venda, é destinada a obras de caridade. Geralmente em hospitais... Foi assim  com o "SORRISO DO JOÃO" com  " A LUA TEM MESMO QUATRO FACES", " PERENE"  com  "A LEVEZA QUE A VIDA TEM E O AVC"  assim aconteceu com o valor arrecadado com a venda  de " UM SONHO CARECA" da mesma forma aconteceu com " A HISTORIA DE LUCAS"  este escrito pela incrível dupla Raquel Vilela e Rosanne Von Spperling e ilustrado com maestria pela Iara Rachid e do qual posso dizer: LUCAS... Olhinhos vivos, atentos. Alma de gigante repleta de indagações confiantes, de certezas..."sabia que você vinha". de desafios "viu como sei nadar?" de necessidades, de limitações, de sonhos, de fantasias e percepções encantando as autoras que de uma forma muito especial e concreta construíram magistralmente, qual arquitetas de vida, em palavras uma "tarde vida" vivida ao lado de LUCAS numa piscina, num terno acariciar de mergulhos, braçadas e sonhos...É maravilhoso saber ler e escrever VIDA da forma como a que pulsa nas páginas do livro e que antes gritou silenciosamente no coração e na alma das autoras, florescendo como que, num delicioso acalanto de amor.

“A HISTÓRIA DE LUCAS”.
E esse terreno abençoado continua produzindo frutos com o seu “O MUNDO DOS PERDIDOS E ACHADOS” e mais recente lançamento.
Mas os mais belos frutos dos abençoados terrenos Raquel e Rubens, Raquel Virgínia Rocha Vilela e Rubens Costa Vilela são suas filhas. Sem dúvida são suas filhas: Luiza, Priscila, Gabriela e Camila Rocha Vilela.
São sem dúvida repito, os mais belos e preciosos frutos com o que esse abençoado terreno nos presenteou.

Raquel Virgínia Rocha Vilela. Casa de São Francisco agora, também é sua. Entre, entre. Seja bem vinda!”


Manifestação da Acadêmica Maria Inês Chaves de Andrade

“Sejam bem-vindos! É com muito carinho que os recebemos na casa de São Francisco de Assis, nesta data solene e festiva de seis de Outubro de 2018, em que a Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais se reúne em seção de posse para receber, em seu elenco de acadêmicos, a Neo Acadêmica Raquel Virgínia Rocha Vilela.
Em cenário literário e, por isso mesmo, “porque hoje é sábado”, Raquel Vilela exsurge enquanto autora de uma história que a tem por personagem principal, sob um roteiro denso que a apresenta, objetivamente, dando-nos a saber da profissional competente e titulada, de cuja aridez curricular, deflui, atestada por inquestionável, sua sensibilidade de mulher fora de série. 
Casada com Rubens Costa Vilela, oftalmologista, com ele teve quatro filhas: Luíza, Priscila, Gabriela e Camila, todas médicas, permitindo-me Camila aqui pensar sua odontologia sob o léxico lusitano para dizê-la medicina dentária. Neste momento, delicadamente, ao Dr. Rubens peço licença para pontuar a graça que mereceu, seja por bênção e alegria, quando, ao cuidar de olhos que veem, mereceu olhos que enxergam e identificou Raquel Virgínia Rocha, esta mesma tornada Vilela por amor. Quem nasceu Rubens experimenta mesmo de todo plúrimo do bem!
Agora, convém-me contar-lhes fofoca de prefácio, na lavra de Natalina Jardim, que suspeitou de Raquel da seguinte forma: “Leva-nos a crer que traz para o texto passagens ricas de sua feliz infância”. Na verdade, denunciara Natalina Jardim a criança interior de Raquel, de coração, intacta, brincando maturidades sobre temas caros, tanto preço não tenham. E quase posso dizer, depois de ter sabido muito, que esta menina-mulher mora em Belo Horizonte, exatamente, para certificar-nos de que o horizonte pode mesmo ser belo, bastante seu ponto de vista, mesmo quando o mirante estiver completamente nebuloso.
Por isso, dizem que a Baleia retornada de Nínive virou Hospital para tê-la em si feito Jonas – possam anjos dele se insinuarem pelas mesmas letras – tenha Deus lhe dado a missão inarredável de curar os meninos e as “Minas” Gerais.
A tessitura entre a cientista, a médica e a escritora, entremeadas por uma espiritualidade inquestionável, em moldura de mulher linda, em Raquel Vilela providenciaram um ser humano em toda dimensão que há para dizê-lo humano, sendo.  Ora, ao estudar Heidegger que indagara o sentido do ser do ente porquanto o “ser é sempre ser de um ente” compreendeu-se que era preciso, muito preciso que nos voltássemos à interpretação de nós mesmos se nos quiséssemos desocultar – porque ser e ao mesmo tempo não ser, não pode ser – esse simol non esse, esse non potest; o mesmo que se dizer ser humano e ao mesmo tempo não sendo humano, não pode ser, vez que o homem é o ente, o que existe e que revela o ser através do logos, que amadurece num processo histórico motivado pela questão que assola a humanidade desde sempre: quem somos!?
Pois, Raquel Vilela sabe que é um ser humano. Caiba a esta Academia entregar-se ao texto vivo dela, a interpretação deflui lógica e o apontamento que se adianta é que sua aparência é um sinal de sua essência, quando a hermenêutica dá-se a revelar, então, uma essência rescendente de humanidade sob delicadezas que, como verdade, se torna certeza na consciência. Veja-se. A partir do pensamento analítico abstrato, dividindo a realidade em essência e aparência, apresenta-se Raquel Vilela enquanto ser humano e mulher. É então que o pensamento dialético compreensivo achega-se para revelar essa sua essência humana no momento da totalidade, quando enquanto mulher coloca seu fundamento em si mesma e não em outro, fosse atribuir a Deus as qualidades que a si pertencem e que ostenta na própria confecção de si como imagem e semelhança do que aspira em fé e teologia, o Ser plenamente Humano que a assiste sendo. E o faz através de suas obras, lembram-se?! Fé com obras. Trata-se de roteiros de amor efetivo, ela personagem principal, com coadjuvantes que se revelam ao Oscar e figurantes reconhecidos como heróis, tanto recepcione cada um em sua singularidade para tomá-lo por único. Faz AVC ser leve, carequice ser sonho e câncer, caranguejo, tanto astral lhe impute a astrologia, dando sempre a escancarar alegrias imensas de cada tristeza ensimesmada, quase tivesse sido sua carta natal escrita por Papai Noel.
A alienação da essência humana procedida em Deus desaparece quando Raquel Vilela assume-se filha Dele e imagem e semelhança providencia a acolhida do Outro através de suas histórias, na dimensão que pode. Brinca que foi Princesa Izabel noutra vida. Pois, crenças à parte, de fato o que a moça tem é essa certeza imensa de que sempre laborou pela liberdade, a liberdade enquanto valor e de todas as formas, a liberdade pela qual luta esta Princesa Raquel nesta vida, para libertar os que se encontram sob o jugo da doença e da angústia, na senzala do desespero.
Sabe-se que a alienação é um risco mesmo do processo de interpretação dado que “o ser torna exterior a si o que está nele e constitui sua essência”, considerando-a realidade diversa, quando a entifica, na separação entre essência e aparência. Raquel Vilela não o faz. A interpretação que oferece de si é a de uma escritora sobrecarregada espiritualmente pelo compromisso de sê-lo, tanto se sabe, da forma como se queira, literária e humanamente, segura do Verbo e da Palavra, que assume com caneta, abraço, oração e bisturi.
Em Raquel, a ação de ser humano encontra o sujeito que age com este propósito, quando, em sua ligação com Deus, a intransitividade revela - como desvela - o ser humano a partir do bicho-homem.”


Palavra de Raquel Vilela

“Cumprimento os componentes à mesa, nosso Ilustríssimo presidente da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, César Pereira Vanucci e a Ilustríssima Acadêmica Maria Armanda Capelão que fará a saudação. A mestre de cerimônia Maria Inês Chaves. Agradeço a presença das Presidentes eméritas da AFEMIL e da Academia Mineira de Letras Elizabeth Rennó. Demais autoridades aqui presentes. Agradeço a presença dos amigos da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Minas Gerais., e aos amigos da FAJE, Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia. Agradeço a presença de meu marido Rubens Vilela, minhas filhas, Luiza, Priscila, Gabriella, Camila e meus Genros Daniel, Bruno, Felipe e Leonardo.
Espero não ter sido injusta deixando de partilhar a alegria deste encontro sendo traída por algum esquecimento. Estou feliz com a presença de todos que vieram participar comigo da alegria e emoção desta memorável data de minha posse. É uma honra.
Hoje está fazendo uma belíssima manhã de primavera, e com ela a proclamação da chegada das flores, estação fecunda que vem trazendo a promessa de dias alegres e iluminados pelas belíssimas cores, que explodem primeiro um botão e depois pura poesia.
Esta pequena descrição da primavera faz-me recordar a mitologia Grega que lança mão do mito para explicar, a diferença entre as estações do ano. A lenda de “Deméter” (deusa da fertilidade do solo) e sua filha “Perséfone” cujo pai era Zeus, “deus dos deuses”.
Perséfone era considerada uma das mulheres mais lindas. A cada dia que passava a sua beleza era mais irradiante e exalava perfume no ar, e este produzia um encantamento divino em todos o que tinham o prazer de ficar em sua presença.
Conta-se que Hades (deus do mundo subterrâneo, “inferno”), buscando encontrar uma esposa, deslumbrou-se ao ver Perséfone, e sua paixão foi tão arrasadora que ele resolveu rapta-la.
Foi então que, Deméter, mãe de Perséfone, saiu a procura de sua filha tanto no Olimpo, quanto na Terra. Por não achar sua filha, Deméter ficou irada e muito triste, e tais sentimentos teriam causado uma seca prolongada na terra, já que ela era a deusa da fertilidade do solo, ás vezes ela chorava copiosamente e como resultado, proporcionava longas enchentes.
Para acalmá-la, Zeus resolveu intervir e fez um trato com seu irmão Hades: Perséfone teria que passar seis meses do ano ao lado de Hades no mundo subterrâneo, e os outros seis ela estaria “liberada” para passar ao lado da mãe.
Sendo assim, o período em que Perséfone estaria ao lado de Hades, sua mãe ficaria muito triste, e como resultado de sua melancolia, as folhas das árvores cairiam e a natureza reagiria com a chegada do outono, com o passar do tempo a saudade da mãe aumentaria, e o vento então sopraria mais forte, e a neve e o frio tomaria conta de tudo era a chegada do inverno.
Porém, os seis meses vindouros quando Hades trazia de volta a bela Perséfone, o mundo se encheria de cores, e tudo se tornaria fecundo, as flores desabrochariam para enfeitar a terra onde Perséfone, iria passar, surgindo assim a primavera, e seguir-se-ia o verão, estação que aqueceria todos os corações da terra, e sua mãe Deméter, sorria feliz novamente.
Desde os princípios do tempo datado dos séculos V antes de Cristo, o Homem almeja explicações para fenômenos observados na natureza, procurando conjugá-los ao comportamento humano.  Fico imaginando que muitos de vocês devem estar pensando, porque ela está falando de mitologia grega...? Para fazer um breve preâmbulo, que configura a essência humana de criamos histórias ou estórias que se mesclam com a nossa identidade e ditamos um pouco de quem somos nós.
Fui uma criança livre, feliz tive uma infância modesta, mas rica em alegria e amor, o tempo parecia ser sempre pouco para mim, pois as ideias fantasiosas que criava em meu pequeno mundo, pareciam não caber nele. O cenário deste mundo era o terreiro de minha casa... muita tinta, muitas escadas... e areia. Tudo que uma criança precisa para criar e brincar durante todo dia.
Nasci cercada de montanhas da famosa Serra Del´Rei, ou melhor Serra do Curral, no familiar Bairro Floresta. A minha casa foi a primeira da rua ainda de chão batido, e bem a frente desta rua era um enorme matagal, excelente para uma cabeça criativa, ver todos os fantasmas. Do outro lado da rua, era um despenhadeiro, e lá baixo, se construiria mais tarde, os dois Túneis de Belo Horizonte (Túnel da Lagoinha, e Tancredo Neves), onde antes existia um campo de futebol, que se chamava Campo do Galena, lugar onde eu acostumava descer para brincar. Na primavera, tempos de Perséfone, o campo se enchia de uma florzinha, uma margaridinha de cor laranja intensa, era o anúncio da primavera.
Eu também vivi para ver e brincar em meio à natureza porque sou da época das Tanajuras... e a meninada ficava louca. É... sou natural das Minas Gerais e nasci na cidade de Belo Horizonte, casula de 10 irmãos, fui a única que nasci em um hospital, na época maternidade São Lucas.   Belo Horizonte...
Morar entre montanhas... acho que aguça nosso sensu comum poético. Primeiro que a montanha sempre nos convida a subir, e lá de cima mirar o mundo sob outra perspectiva. Além disso, a caminhada até o topo é sempre um apelo reflexivo, que nos transporta com o sentimento de que não é apenas chegar no topo e ver com outros olhos, mas descobrir o que esta caminhada te ensinou até você chegar aí. Pensar em Belo Horizonte é sempre uma bela cena que se abre.
Hoje quando olhamos para trás vislumbramos o que antes era apenas um arraial, com o passar dos anos, observou-se um crescimento do então vilarejo, que começa mostrar os primeiros contornos de uma pequena cidade. A princípio este é um processo muito óbvio na instituição de qualquer cidade. Porém, de forma despercebida esquecemo-nos dos anseios que foram almejados quando tudo começou, quantas aspirações foram aí depositadas, quantos medos e adversidades foram enfrentados para que esse progresso fosse alcançado.
Toda cidade divide um pouco desta verdade, são construídas de sonhos. Cria-se primeiro o cenário, depois os atores entram em cena e assim começa o processo histórico, que perpetua através do tempo, envolvidos pelas conjecturas do momento histórico. O tempo vai modelando os acontecimentos e de repente existe ali, exatamente neste lugar, neste arraial, nesta cidade várias biografias para contar, como Maria Clara Machado escritora e dramaturga brasileira famosa por suas peças infantis, Fernando Tavares Sabino escritor e jornalista, Hélio Pelegrino médico e poeta, Elizabeth Rennó primeira mulher a ocupar a presidência da Academia Mineira de Letras e seu legado bibliográfico enriquecedor, Maria Armanda Capelão escritora de mais de 30 livros infantis e detentora de vida rica e gloriosa e muitos outros grandes personagens que contribuem com o processo histórico de nossa cidade, mesmo que não sejam naturais desta, mas que a tenha escolhido para instituir parte da construção de sua vida. Afinal, Lar é o local que escolhemos para depositar parte de nossas esperanças, vivências e experiências humanas.  
A história desta cidade se mescla com a coragem de desbravadores bandeirantes.  João Leite da Silva Ortiz, foi um bandeirante que chegou até a Serra de Congonhas na corrida para encontrar minas de ouro. Encantado pela beleza destas serras João Ortiz, apesar de não ter encontrado o tão sonhado ouro, estabeleceu-se neste lugar que passou a se chamar Arraial do Curral del Rei.
A cidade de Belo Horizonte foi escolhida em 1893, no início do século XIX, para ser a capital do Estado de Minas Gerais, após averiguação de que a capital, Ouro Preto, não oferecia estrutura para expansão urbana devido seu relevo acidentado. Por essas razões, Belo Horizonte foi escolhida pela localização privilegiada, zona da Mata, e também pelo relevo e clima favoráveis, sendo assim a cidade foi totalmente planejada no modelo de vanguarda urbano da época
A década de 40 do século XX foi marcada pelo avanço da industrialização. Nessa época foi inaugurado o Complexo Arquitetônico da Pampulha (composto pela Igreja de São Francisco de Assis, o Iate Tênis Clube, a Casa do Baile e o Cassino, hoje Museu de Arte da Pampulha, circundando a Lagoa da Pampulha), encomendado pelo prefeito em exercício Juscelino Kubitschek, com projeto assinado por Oscar Niemeyer, paisagismos de Roberto Burle Marx, com painéis de Candido Portinari, e as esculturas de Alfredo Cesshiatti e José Pedrosa.
Nos anos 60 e 70 a capital passou por um processo acelerado de crescimento urbano que avançou sobre suas ruas, quando foram demolidas casas e áreas verdes e ergueram-se altos prédios, em um processo de descaracterização da "Cidade-Jardim".
A partir dos anos 80, a desaceleração econômica prevaleceu e os movimentos sociais urbanos organizavam-se para reivindicar direitos urbanos básicos, como transporte público, atendimento médico e acesso à educação. A partir do início da década de 90, Belo Horizonte é marcada por programas e projetos de melhorias urbanas e sociais, com a efetiva participação popular, fazendo Belo Horizonte chegar ao século XXI com quase 2,5 milhões de habitantes distribuídos em seus 331 km².
Eu sou da época de tradições e também dos anos Dourados de Belo Horizonte. Como é citado no livro da autora Marilene Guzella Lemos, intitulado “ Belo Horizonte, Nos anos Dourados”,  eu também me recordo do famoso café Pérola, das lojas Grande Camiseiro, Do Bico das Canetas, Lojas Brasileiras, Mesbla, Embrava, Inglesa Levi, Casa Sloper, Perfumaria Lourdes, dentre outras. Como a própria Marilene diz: “Os Anos Dourados foram Tempos de paz”, mas o seu lugar na história não é marcado por páginas em branco. Sobre eles existem muita coisa para contar”. 
Belo Horizonte é uma cidade sonho, assim como a maioria das cidades, e como diz Machado de Assis no ano de 1900:  “ Um dos ofícios do homem é fechar e apertar muito os olhos a ver se continua pela noite velha o sonho truncado da noite moça...” Portanto, continuemos a sonhar a nossa Belo Horizonte.
Escolhi como Patrono da cadeira de número 334 um Mineiro natural da Bela cidade de Boa Esperança, sempre me identifiquei com sua escrita, talvez porque nós dois nascemos em cidades abraçadas por belíssimas Serras, eu a Serra do Curral Del Rei, e ele da Serra da Boa esperança. Falar de Rubem Alves para mim não é uma tarefa árdua, no tocante a sua complexa personalidade, eu jamais conseguiria alcançar todas elas realizando análises profundas, mas quando penso em Rubem Alves, sempre faço um paralelo com uma criatura alada, de mente desprendida de convenções, um lutador de si mesmo. Como diz Kierkegaard (...) Mas o voo nos faz lembrar os seres emancipados das condições Telúricas, um privilégio reservado para as criaturas aladas...”
Rubem Alves é natural de Boa Esperança Minas Geral, escritor pedagogo, poeta e filósofo de temas variados, cronista do cotidiano, contador de estórias, ensaísta, teólogo, acadêmico, autor de livros e psicanalista. Ele é considerado um dos intelectuais mais famosos e respeitados do Brasil. Autor de vastíssima obra, já publicou textos sobre educação, meditações teológicas, crônicas e estórias infantis. Foi membro da academia Campinense de Letras, professor emérito da Unicamp e cidadão honorário de Campinas.
Menino criado nas Minas Gerais, cercado pelas serras da bela cidade de Boa Esperança, sempre demonstrou desde cedo seu fascínio pela leitura. Ele foi uma criança tímida e seus pais se mudaram para a cidade do Rio de Janeiro, quando ele era ainda criança. Filhos de pais evangélicos, ele seguiu a tradição familiar estudando teologia e se tornou Pastor evangélico da igreja Presbiteriana do Brasil. A influência religiosa em sua vida sempre foi muito forte, e por muitas vezes sentiu-se tolhido pela doutrina adotada pela igreja a qual pertencia. Sua vibrante capacidade de pensar e de fazer questionamentos profundos aos dogmas adotados pela sua crença religiosa despertou crescentes conflitos por parte da cúpula que regia sua igreja. Sempre foi muito criticado por seus pares, pois demonstrava em seus sermões, seu inconformismo mediante as várias questões religiosas. Especialmente, no tocante da visão de Deus, pois a visão interpretativa que era apreciada pela formação presbiteriana, era de um Deus com postura punitiva, e que exigia dos fieis algumas barganhas para a instituição da Graça divina.  Como a direção da igreja começou a sentir-se ameaçada por suas ideias, resolveu após algumas advertências, incluindo proibição de alguns sermões, exonera-lo da igreja presbiteriana, como punição a um sermão, no qual, ele revelava a importância de nunca abandonarmos o nosso lado criança.
Rubem Alves tem um papel crucial na Teologia da Libertação, e nesta época começou a reunir, com Frei Beto, e Leonardo Boff. A sua veia literária infantil estava apenas começando...
Ele casou-se, ainda jovem, como pastor e teve três filhos dois homens, e uma temporona. A esta filha que deu-lhe o nome de Raquel.
Raquel teve uma importância fundamental na longa fase da literatura infantil de Rubem Alves. Nascida com uma deformidade de fissura labial, com alterações morfológicas importantes que comprometiam face, foi submetida a muitas cirurgias reparatórias. Este fato, o transportou para uma fase de profundos questionamentos, sobre o sofrimento humano. Sendo assim, muitas vezes em seus livros ele deixa expressar um sentimento de culpabilidade pela deformidade de sua filha. Era como se ele tivesse agora acreditando em um Deus punitivo, a mesma visão de Deus que ele tantas vezes questionará por não aceitar, agora o atormentava. A forma que ele encontrou para trabalhar com este conflito, foi começar a escrever histórias infantis que pudessem ajudar a sua filha a enfrentar seus desafios. Desafios estes que eram pautados tanto pelo tratamento da alteração anatômica em si, como aqueles de lidar com as distorções da sociedade, e ao lidar com o que era diferente, levando em consideração aos inúmeros constrangimentos que ele enfrentou com ela em locais públicos.
Rubem Alves tinha um caso de amor com a vida, esta é a frase que ele escolheu para que escrevesse em sua lápide. No livro “Arquivos Literários” da nossa querida Elizabeth Rennó, em um de seus prefácios dedicado a José Afrânio Moreira Duarte, ela começa sua apresentação com a seguinte frase. “A bússola que sempre norteou os caminhos de José Afrânio Moreira Duarte, chama-se solidariedade.” Ousando-me a parafrasear a referida autora eu assim escreveria.
A Bussola que sempre norteou os caminhos de Rubem Alves, chama-se inquietação amorosa...” pois em todos os seus textos é possível identificar, seu amor pelo belo, sua intimidade com Deus, seu espírito livre e apaixonado pela educação, seu encantamento pelo novo, por tudo aquilo que leva o homem  a ter uma atitude reflexiva e transformadora na formação de um ser moral .
O Que Rubem Alves tinha era um modo de ver as coisas diferentes. O modo como os poetas vêm e são convidados a descreverem com palavras, a bela imagem que lhes ressaltou aos olhos. Este modo diferente de ver as coisas simples do cotidiano e ofuscá-las com detalhes sensíveis, e a facilidade com que abordava temas difíceis que permeiam a vida de todo ser humano com simplicidade e autenticidade, é que fez de Rubem quem ele foi e sempre será para seus leitores.
Para exemplificar e deixar o aroma no ar deste grande escritor lerei parte de seu livro. “Anotações essenciais”  de Rubem Alves.
(...)Temos uma capacidade quase infinita de suportar a dor, desde que haja esperança. Diz-se que a esperança é a última que morre. Mas o certo seria dizer: a penúltima. Há uma morte que acontece antes da morte. Quando se conclui que não há mais razões para viver. Quando morrem as razões para viver, entram em cena as razões para morrer...(...)

(...) Amor é bibelô de louça. Ciúme é a consciência de que o objeto amado não é posse: bibelôs quebram fácil. Por isso, o amor dói, está cheio de incertezas. Discreto tocar de dedos, suave encontro de olhares: coisa deliciosa, sem dúvida. E é por isso mesmo, por ser tão discreto, por ser tão suave, que o amor se recusa a segurar. Amar é ter um pássaro pousado no dedo...(...)
Poesia
A poesia não é uma expressão do ser do poeta.
A poesia é uma expressão do não ser do poeta.
O que escrevo não é o que tenho; é o que me falta.
Escrevo para me completar.
Minha escritura é o pedaço arrancado de mim.
Escrevo porque tenho sede e não sou água.
Sou pote.
A poesia é água.
O pote é um pedaço de não ser, cercado de argila por todos os lados, menos um.
O pote é útil, porque ele é um vazio, que se pode carregar.
Nesse vazio, que não mata a sede de ninguém, pode-se colher, na fonte, a água que mata a sede.
Poeta é pote. Poesia é água. Pote não se parece com água. Poeta não se parece com poesia.
O pote contém a água. No corpo do poeta estão as nascentes da poesia...

Hoje eu tenho a honra de ocupar a cadeira de número 334 da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais AMULMIG, peço as bênçãos de São Francisco de Assis para colaborar com esta casa, fazendo o uso da simplicidade de gestos, clareza de pensamento, ancorar-me na fé, e acreditar que através da literatura poderei contribuir para meu crescimento próprio, e também para a construção de uma sociedade mais justa.
Agradeço imensamente aos acadêmicos, figuras literárias nas quais me espelho nesta casa, pelo carinho de me ouvirem nesta linda manhã de outubro.”

A SAGA LANDELL MOURA

Pacto sinistro

                                                                                              *Cesar Vanucci   “O caso Marielle abriu no...